
Será que além de poder, a chefia também aspira à estima dos chefiados? Parece que ser admirado, ver apreciadas suas obras e feitos, é um desejo espontâneo a toda autoridade.
Por saber disso, Maquiavel prelecionou: “Nada atrai tanta estima para um príncipe quanto a execução de grandes empreendimentos e a exibição de exemplos excepcionais”.
Ele menciona o exemplo de Fernando de Aragão, cujas ações nasciam umas das outras, “de forma que os homens não tiveram tempo para calmamente fazer-lhe oposição”. Acima de tudo, ensina o autor de “O Príncipe”, um chefe “deve esforçar-se em todas as suas ações para deixar uma imagem de grande homem e homem de gênio”.
O que é, na verdade, um “grande homem” ou um “homem de gênio”?
O julgamento dos coetâneos nem sempre é aquele que a História registrará. O tempo, senhor da verdade, faz com que reavaliações se façam a cada época. O que foi considerado grande poderá ser considerado menor. E aquele que foi esquecido talvez possa ressurgir e merecer o encômio de que foi privado enquanto vivia.
Outro conselho de Maquiavel é a de que “os príncipes devem evitar, sempre que possível, estar à mercê de outros”. É óbvio que nenhum Estado pode ter sempre a capacidade de fazer opções acertadas. Elas são sempre incertas, “pois assim é pela ordem das coisas, de forma que nunca se pode tentar fugir de um inconveniente sem esbarrar em outro”.
Uma coisa é certa: o chefe deve “demonstrar seu apreço pelas virtudes, hospedando e honrado os homens virtuosos e aqueles que revelam excelência nesta ou naquela arte”. Precisa estimular seus cidadãos a praticar tranquilamente suas atividades “e que ninguém receie o aperfeiçoamento de suas propriedades por medo de que lhe sejam tomadas, ou de iniciar uma atividade comercial por medo dos impostos”.
Além disso, à autoridade incumbe manter o povo entretido “com festas e espetáculos”. Como uma cidade se compartimenta em inúmeros grupos e organizações, estas devem ser consideradas pelo chefe. Ele será estimado se vier a “reunir-se com elas uma vez ou outra, dar exemplos pessoais de humanidade e generosidade”.
Isto foi escrito em 1513. Alguém dirá que já não tem mais serventia?
(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2019-2020).
Publicado na edição nº 10531, de 7 a 10 de novembro de 2020.