Os governos podem cuidar, alimentar e ensinar os jovens, mas a educação é obrigação dos pais.
Quem esteve na audiência pública da Câmara, realizada na noite de terça-feira (21), para debater a violência nas escolas, com certeza ficou estarrecido com a situação. Jovens matriculados no ensino médio não respeitam professores, funcionários e nem guardas municipais armados. Um deles revelou que um aluno não fez questão de esconder que estaria envolvido com tráfico de drogas.
Tanto o comandante da PM em Bebedouro, capitão Flávio D’Arbo, quanto o delegado da Dise, Carlos Lopes, dois experientes profissionais no combate ao crime, revelaram estar de mãos atadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que autoriza a internação na Fundação Casa, apenas o infrator que cometer atos de extrema violência. A sensação de ambos é “estar enxugando gelo”, porque o adolescente detido por furto de veículo e a residências, por exemplo, é rapidamente solto.
Com este grau de impunidade, o ambiente escolar tornou-se verdadeiro calvário para educadores. Se já não bastasse a dificuldade em repassar conhecimento para jovens com baixo nível de instrução, professores ainda são obrigados a lidar com ameaças de espancamento, se ousarem punir os maus alunos. Marotamente, eles sabem que não podem ser disciplinados, porque a lei lhes garante guarida.
A municipalização do ensino criou dois mundos educacionais. Há belas escolas mantidas pelas prefeituras, mas os estabelecimentos de ensino médio, que ficaram sob responsabilidade do governo do estado, estão bem aquém até estruturalmente. Além da falta de manutenção visual, há grades para todos os cantos, o que faz o ambiente lembrar cadeias. Enquanto na rede municipal há investimento em material didático, na rede estadual quase tudo ainda é passado na lousa.
Os governos podem e vão conseguir em breve mudar a legislação, com redução da maioridade penal. Porém, a luta para acabar com a violência escolar precisa começar nas famílias. O capitão da PM, Flávio D’Arbo disse algo que passou desapercebido na reunião: boa parte dos adolescentes infratores vem de lares desestruturados. Pais e mães precisam refletir que matricular os filhos desde bebês em creches, não é ato de terceirização da educação. Os governos podem proteger, ensinar e até alimentar as crianças, mas valores, conceitos éticos e morais devem ser passados pelos pais. E ai está outra falha grave do ECA. Há obrigações para os pais, mas não se tem notícia de prisão para pais ausentes.
Publicado na edição nº 9550 dos dias 23 e 24 de maio de 2013.