Operação Calabar prende oito guardas municipais por desvio de provas

Investigação conjunta entre GCM e Polícia Civil também cumpre 16 mandados de busca e apreensão de drogas, armas e munições.

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Fora de circulação – Drogas, armas, radiocomunicadores e celulares foram apreendidos pela Polícia Civil com guardas municipais suspeitos, durante Operação Calabar. (Divulgação/Polícia Civil)

Oito guardas civis municipais de Bebedouro foram presos na manhã de terça-feira (1º), na Operação Calabar, entre a Guarda Civil Municipal (GCM) e a Polícia Civil, por suspeita de infrações penais, como desvio de drogas e dinheiro apreendidos com criminosos. A Polícia Civil também cumpriu 16 mandados de busca e apreensão.

O comandante da GCM, desde 2013, Luiz André Rosa Júnior, afirma em coletiva de imprensa, que a investigação teve início internamente, há oito meses, depois que a Corregedoria recebeu denúncia de presos, alegando que alguns guardas desviavam parte das drogas e dinheiro apreendidos e forneciam aos infratores.

“Tentamos da melhor forma possível, mesmo com recursos limitados, investigar o caso junto à Corregedoria e levantar maiores detalhes, para tomar as medidas cabíveis. Quando notamos que nossos meios de investigação tornaram-se ineficientes, buscamos auxílio da Polícia Civil local e do Ministério Público, através da promotoria”, acrescenta Rosa Júnior.

A investigação transcorreu por oito meses e, na terça-feira (1º), foi concluída a tarefa investigativa. Os mandados foram deferidos e deflagrados a partir das 6h, envolvendo aproximadamente 50 policiais civis de diversas Delegacias Seccionais da região de Ribeirão Preto.

Também participaram da operação de cumprimento destes 24 mandados judiciais, integrantes da própria GCM, indicados pela sua respectiva Corregedoria Interna.

A partir de escutas telefônicas, realizadas com autorização da justiça, os investigadores descobriram o esquema envolvendo oito guardas civis, alvos de mandado de prisão. “Existem indícios de que eles utilizavam parte dos entorpecentes para forjar prisões de elementos, que não conseguiam pelos meios naturais e regulares”, diz o comandante.

Rosa Júnior garante que estão sendo tomadas as medidas para afastamento imediato e abertura de processo administrativo, para expulsão dos envolvidos: “Não admitimos condutas torpes, que não condizem com a tarefa a ser executada, de prestar serviços de segurança à população”, reitera o comandante.

Segundo Rosa Júnior, estes oito guardas representam 8% do efetivo da GCM, número representativo devido ao contexto, pois fazem parte da segurança pública local. “O restante da guarnição foi investigada e está limpa e continuaremos trabalhando normalmente, com os mais de 90% dos bons agentes restantes”, confirma.

A princípio, para o comandante, o sentimento é de indignação, pois a função da Guarda Civil é levar segurança à sociedade. “A partir do momento que um agente público, uniformizado, alia-se ao crime, torna-se um criminoso ainda pior, o que é inadmissível para a GCM. A maior prova que a população pode continuar acreditando em nós é esta ação, pois assim que identificamos desvio de conduta de alguns integrantes, tomamos as providências cabíveis. Os bebedourenses podem estar seguros de que todos os guardas que permanecem nas ruas são os melhores que nós temos, já que estamos, neste momento, extirpando a má conduta da Guarda Civil de Bebedouro”, conclui Rosa Júnior.

O que diz a Polícia Civil

A investigação foi intitulada pela equipe responsável da Polícia Civil como Operação Calabar, remetendo ao personagem da história brasileira Domingos Fernandes Calabar, senhor de engenho que, após ingressar nas forças armadas portuguesas, traiu seus irmãos de armas para favorecer a invasão holandesa, em território brasileiro.

Segundo o delegado seccional de Polícia de Bebedouro, José Eduardo Vasconcelos, os trabalhos por parte da Polícia Civil iniciaram-se há quatro meses, com colaboração dos comandantes e inspetores da GCM, que mostraram-se preocupados com as possíveis infrações.

“Avançamos nas investigações, que tomaram proporções maiores que o esperado. Terça-feira (1º) pela manhã, a justiça de Bebedouro deferiu em favor da Polícia Civil, a expedição e o cumprimento de 16 mandados de busca e apreensão e oito mandados de prisão temporária. Com apoio de 50 policiais de diversas seccionais da região de Ribeirão Preto e da Corregedoria da GCM, foram apreendidas drogas como maconha, cocaína e crack, armas, munições, radiocomunicadores e capuzes, objetos de interesse da investigação. Os crimes pelos quais os guardas serão indiciados ainda não foram especificados, porque eles ainda estão sendo ouvidos”, declara Vasconcelos, acrescentando que além dos outros oito guardas presos, outros integrantes da GCM e membros da sociedade civil foram alvos de busca e apreensão.

“Importante ressaltar que a Guarda Civil, como instituição de segurança pública, não é investigada, mas alguns guardas sim. Por outros meios, seria possível concluir a investigação, porém o processo seria mais difícil e mais longo. Foi com a colaboração do comando da GCM que pudemos acelerar o processo, que poderia levar mais de um ano para ser deflagrado, com provas substanciais, não apenas quatro meses. Nos próximos dias, poderemos ter um panorama mais fechado destas investigações”, finaliza Vasconcelos.

Publicado na edição nº 10432, de 2 a 4 de outubro de 2019.