Os computadores programáveis

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Chegamos ao século 21 cercados pela tecnologia digital. Os aplicativos (Apps) instalados nos celulares nos permitem explorar o mundo virtual quase sem limites, dada a diversidade de temas contemplados por esses preciosos sistemas. Literalmente temos o mundo às nossas mãos, seja para comprar um produto raro, acompanhar em tempo real as condições de nossa saúde, analisar os índices financeiros globais ou mesmo interagir com um amigo do outro lado do mundo.
Mas nem sempre foi assim. A história da computação digital iniciada no século 19 contemplou primariamente a engenharia do maquinário, a reboque da revolução industrial, que substituiu os métodos de produção artesanal pelos métodos de produção em massa. O tear mecânico de Jacquard (Joseph Marie Jacquard, 1752 – 1834) e o motor a vapor de Watson (James Watson, 1736 – 1819) são exemplos vívidos dessa transformação que se iniciou na Inglaterra e se expandiu para toda a Europa e posteriormente para os Estados Unidos.
Dentro do cenário das inovações computacionais, entram em cena a máquina analítica de Babbage (Charles Babbage, 1791 – 1871), a máquina de cartões perfurados de Hollerith (Herman Hollerith, 1860 – 1929), o analisador diferencial de Bush (Vannevar Bush, 1890 – 1974) e o computador a válvulas de Flowers (Tommy Flowers, 1905 – 1988), isso para contextualizar apenas o início da grande corrida que seria realizada por pesquisadores do mundo todo na conquista da computação digital.
O fato é que durante várias décadas de evolução, a mecânica e a infraestrutura dos computadores foram os grandes focos de atenção dos especialistas inventores. Demorou algum tempo para que os sistemas (programas) tivessem sua importância reconhecida, tanto que a programação dos computadores pioneiros era relegada à responsabilidade das mulheres, como uma parte não interessante e não importante de se fazer.

Um divisor de águas

É difícil afirmar quem inventou o primeiro computador. Se levarmos em conta que ele é um equipamento totalmente eletrônico e capaz de resolver soluções de propósito geral, talvez a melhor opção fosse apostar no ENIAC, criado por Presper Eckert e John Mauchly em 1945. Comparado aos computadores pessoais de hoje, o ENIAC poderia ser considerado um verdadeiro dinossauro de 30 toneladas que ocupava um espaço de 270 m2 e utilizava mais de 17 mil válvulas, cuja principal finalidade era realizar cálculos balísticos para o exército americano. Mas, trazia em sua configuração um diferencial em relação aos antecessores: podia ser programado para dar soluções a outros problemas.
Essa dita programação tornou-se um grande divisor de águas na revolução digital, pois ao invés de se construir um computador para resolver cada problema específico, construiu-se um computador programável para resolver vários e diferentes problemas, como previra o matemático britânico Alan Turing em 1942: “Não precisamos ter uma infinidade de máquinas diferentes fazendo trabalhos diferentes. Uma única maquina será suficiente. O problema de engenharia de produzir várias máquinas para vários trabalhos é substituído pelo trabalho de gabinete de ‘programar’ a máquina universal para desempenhar essas tarefas”.
Alan Turing morreu semanas antes de completar 42 anos de idade e pouco pode assistir da revolução digital que o mundo viveu e tem vivido desde meados do século passado, muito em função dos sistemas que os computadores começaram a carregar desde tempos do ENIAC.
Décadas mais tarde, uma nova e pequena empresa fundada por dois estudantes no Novo México, Estados Unidos, faria uma revolução dentro da revolução digital e transformaria o mundo levando a computação ao alcance de todos os mortais: a Microsoft.
Hoje seria impensável imaginar um computador pessoal sem os chamados sistemas aplicativos, mas a evolução digital precisou contemplar muitas voltas, muitas ideias e muita energia para chegar ao ponto que chegou. E certamente ela ainda não
terminou.

Publicado na edição nº 9888, dos dias de 10 e 11 de setembro de 2015.