Eduardo Iha
Uma reflexão nostálgica como referencial de boas práticas em favor do próximo e da sociedade em geral, em contraponto com certos comportamentos dos dias atuais.
É passado o tempo em que se traçava, com detalhes, o perfil de determinada pessoa, com dados sobre o que fazia, do que gostava, se praticava algum esporte, se era católica ou evangélica, tecelã, costureira, benzedeira, se freqüentava algum evento social e tudo o mais que o repórter quisesse saber e, também, o que a entrevistada pretendesse passar.
Percebia-se que alguns tinham memória privilegiada. Sabiam, por exemplo, de cor e salteado, o número de telefone de todos, sem recorrer à agenda ou a outras anotações.
É nostalgia o tempo em que, com regularidade espantosa, enviavam-se fotografias originais, recortes de jornais, receitas caseiras, ensinavam-se simpatias, enfim, o que era considerado importante para o cotidiano ou útil para as situações de momento, ou que poderia render frutos para a sociedade, a opinião pública.
Havia um tempo, em que nos jornais da cidade, colunistas se especializavam em narrar fatos do dia, da semana, em enumerar os últimos destaques, os acontecimentos com chances de ficar para a história e que, certamente, serviriam de exemplos ou de referências para futuras gerações.
Que saudade do colaborador-articulista que, semanalmente, produzia um texto, por exemplo, a respeito dos homens (em sua maioria) e das mulheres que eternizaram seus nomes em ruas, praças, escolas ou outros estabelecimentos e logradouros da cidade!
Falava-se e lembrava-se de tudo e de todos, das notícias do berçário da maternidade às notas de falecimento, seja de quem for que estreava sua presença no mundo, ou partia para o segundo andar.
As publicações se transformavam em autênticos livros de memórias, que fidelizavam o jeito de ser e agir do lugar, com fortes referenciais nos construtores de cidades, dos homens e mulheres que não se limitavam a cuidar da família e a cumprir com rigor as atribuições do trabalho. Eram pessoas arrojadas, que se dividiam em várias outras, para darem conta do recado. E sem nada cobrarem, apenas pela satisfação de colaborar, de ampliar o bem-estar próprio e do outro.
Constavam do acervo do dia a dia, a máquina de datilografia, a criação de bicho-da-seda, de rãs, de frangos e galinhas para produção de carne e ovos, o espaço no enorme quintal para a pequena horta e para a vaquinha de leite, ao lado do jardim e dos varais para secar a roupa lavada no tanque movido a arroz-e-feijão.
Este texto vem a propósito de um anúncio, com divulgação recente na telinha da TV, em que a mamãe pergunta à filha, ainda bem criança, o que ela (mamãe) iria ser quando a garotinha estiver adulta, mulher feita. E a menina, sem vacilar, simplesmente responde: “Você vai ser a minha mamãe”. Que lindo! Que me perdoem os filhos plugados à tecnologia que leva ao imediatismo e reduz a sensibilidade!
Afinal, os filhos de ontem tinham a marcante e respeitosa característica com fortes referenciais de sensibilidade! Então, que os de hoje deem continuidade a esse perfil e cultivem a emoção nessa direção! Aproveitem este maio em curso, o Mês das Mães, como ponto de partida (ou de continuidade), para que o mundo seja mais voltado às boas práticas e aos sentimentos puros, no combate ao materialismo crescente!
O assunto aqui abordado, como referencial de qualidade pessoal e de postura e compostura social, tem tudo a ver com o jeito de ser, praticado durante toda uma vida, pela professora, jornalista, artista plástica e benfeitora, Sarah Pacheco Cardoso, a saudosa primeira-ministra das boas ações da Cidade Coração.
(Colaboração de Eduardo Iha, jornalista).