
Em nenhuma parte do mundo há uma festa tão democrática quanto esta dos brasileiros.
Há historiadores que apontam para as festas gregas, nos cultos à fertilidade do solo, realizadas há 600 anos antes de Cristo, como os primórdios do Carnaval. No ano 590 D.C, a Igreja Católica instituiu a festa do adeus à carne, período que precede os 40 dias da Quaresma, tempo de jejum e orações, antes da Páscoa. Com o tempo, nos países europeus, principalmente na Itália, virou desfile de fantasias e músicas, que depois desembarcou aqui, em terras tropicais, em pleno Brasil Imperial. Ninguém imaginava que a mistura deste costume importado, com o ritmo africano, transformar-se-ia nos cinco dias de pura irreverência, de norte a sul deste país continental.
O formato de desfile de escolas de samba, em forma de concurso com premiação por quesito, foi criado pelo jornalista Roberto Marinho, fundador do jornal O Globo, copiado por todo país.
Mas em cada região, embriagadas de alegria e ousadia, as pessoas deram tons locais para o reinado de Momo. Em Bebedouro, em plena Ditadura Militar, um grupo de jovens, artistas, políticos e intelectuais, resolveram criar o Bloco Vai-Quem-Quer, com homens sérios, que sem qualquer explicação, travestem-se de mulheres, sem perder a masculinidade ou ofender os homossexuais, porém, sob olhares supostamente desaprovadores das esposas, que botam as mãos, próximas dos próprios lábios, para esconder o sorriso de encantamento com a brincadeira.
Para os estrangeiros que visitam o país nesta época, principalmente os metódicos alemães e os executivos orientais, fica difícil entender, como tanto excesso junto, misturando bebidas, muita música e pouca roupa, não termina em tragédias coletivas. Exceto a ressaca, e as jovens que perdem o juízo e dão luz a bebês em novembro, as lembranças de carnaval são sempre inesquecíveis.
É exagero dizer que este país só funciona depois do Carnaval. Basta visitar fábricas, empresas e lojas para perceber quanta coisa foi produzida de janeiro até fevereiro.
Mas não é mentira afirmar que o povo brasileiro faz festa para tudo. Além das folias tradicionais, também acontecerão, espalhadas pela cidade, os carnavais gospel ou de Cristo, onde jovens católicos ou evangélicos, vão pular nos salões, ao som de canções cristãs, em ritmo de carnaval. Até quem tenta ser santo, não consegue ficar imune neste período.
Sem julgamentos morais, o que recomendamos é apenas sensatez. O clima é de liberdade, mas não para dirigir embriagado. A festa é democrática, participa quem quer, por isto, respeitemos os vizinhos que não gostam. E por favor, ao retirarem as máscaras na Quarta-feira de Cinzas, permaneçam com os sorrisos estampados. Para a nação permanecer em paz, é disto que precisamos.
Publicado na edição nº 9665, dos dias 1° a 5 de março de 2014.