
A semana começa de maneira angustiante com mais um baque na sociedade brasileira. O Museu Nacional, localizado no Rio de Janeiro, e o seu acervo de mais de 20 milhões de itens foi destruído por um incêndio que tomou conta do prédio na noite de domingo. Uma perda irreparável para o Brasil, para a América Latina e para o mundo, em termos de história, herança, pesquisa e patrimônio da humanidade. Tudo reduzido a cinzas.
Não há como negar que o Brasil enfrenta tempos difíceis. A sociedade está à flor da pele e parece que tudo está entrando em colapso. As estruturas que sustentam a nossa sociedade estão expostas, rachadas e degradadas, como muitos dos prédios históricos do nosso país. Passou da hora de mudarmos a maneira como organizamos a nossa sociedade e a maneira como encaramos a importância da política e a tomada de decisões. Continuamos elegendo lideranças e lhes dando o “poder da caneta”, sem pensar na sua bagagem do passado, não querendo arcar com as responsabilidades e consequências do presente, e deixando o futuro ser “rabiscado” por qualquer um.
A história é cíclica. É importante reconhecer que os projetos que foram firmados no passado, definem o nosso presente e podem definir o nosso futuro, se nada fizermos. Precisamos entender que a maneira como a nossa sociedade foi construída no passado, afeta o exercício da nossa cidadania e o baixo envolvimento popular na tomada de decisões. É nosso papel mudar isso! É preciso lutar pelo futuro da nossa história. Mas como podemos reconhecer tudo isso se, como nação, não temos conhecimento sobre a nossa história? A importância da leitura da história, a visita aos museus locais e aos grandes museus nacionais, e a preservação dos mesmos, muitas vezes, é subestimada pelo brasileiro (em sua maioria).
Quando damos o poder para a tomada de decisões a representantes que não têm qualquer compromisso com os interesses da população (que neste caso envolvem a cultura, a educação e a cidadania – identidade da nação), que não possuem capacidade e embasamento para tomar decisões importantes (sendo incapazes de prever e evitar consequências e problemas sociais) e que não possuem “sanidade” suficiente para compreender a importância de tal patrimônio, eventos como esse acontecem. Não foi a primeira vez, e infelizmente não será a última. Em Brasília, em um passado não muito distante, sentenciaram o futuro de muitas áreas do nosso país, através do congelamento dos investimentos públicos por 20 anos. Nossa indignação, como nação, não foi suficiente para impedir a situação, e os impactos já podem ser vistos meses depois.
A grande questão é que política e cidadania devem caminhar juntas. O Estado, que foi negligente e inconsequente, não é o único responsável por tal acidente. Nós somos os responsáveis também! Pela escolha de termos colocado lideranças descomprometidas no poder. E por não nos engajarmos na preservação do que é nosso. Nosso patrimônio! Somos culpados também. E vale lembrar que temos perdas de patrimônio inclusive em Bebedouro.
Quem tem o “poder da caneta” na tomada de decisões do nosso país, em todas as instâncias, carrega um peso muito grande nas costas. Os problemas são complexos, as soluções não são simples e o ato deve ser responsável, coerente e humano. Precisamos estar cientes disso e das consequências de se dar tal poder a alguém sem preparo, sem compromisso e sem humanidade. Agora é tarde para salvar o Museu Nacional, mas existem outros museus, patrimônios e causas a serem defendidos por nós. Será que esta tragédia irá nos conscientizar como nação? Que a nossa verdadeira cidadania possa nascer das cinzas… pois ela nunca existiu.
Colaboração de Arthur Fachini, formado em Relações Internacionais e ativista pelos Direitos Humanos e igualdade de gênero.
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Leia mais na edição nº 10308, de 7 a 10 de setembro de 2018.