Síndrome de burnout: sob o domínio do estresse

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Marcelo Bosch Benetti dos Santos

A síndrome de burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, consiste em um estado grave de esgotamento físico e mental efeito do estresse relacionado ao ambiente de trabalho. Além do estado de esgotamento, a síndrome apresenta outras duas características principais: sensação de impotência e falta de expectativas (apresentada como desânimo e pessimismo), todas elas podendo aparecer combinadas ou isoladamente.
De maneira geral, a síndrome de burnout inicia-se com uma sensação de exaustão. Com a persistência e a intensificação dessa sensação, o indivíduo passa a diminuir seu investimento de energia no trabalho, resultando em queda de produtividade. Em seguida, surgem ideias e sensações de incompetência ou ineficiência, favorecendo a valoração negativa do trabalho em detrimento da valoração positiva, que por sua vez deixa de ser fonte de motivação.
A síndrome pode estar associada a qualquer atividade profissional e possui diversas causas. A lista é extensa: excesso de demandas; baixos salários e reajustes salariais incipientes; carga horária excessiva; dificuldade em administrar o tempo no trabalho; impossibilidade de gerenciar a própria carreira; frustração quanto ao próprio desempenho profissional e falta de planejamento profissional; recebimento de pouco reconhecimento por parte da equipe e ou de gestores e supervisores; incompatibilidade de ideias entre o colaborador e seus gestores; e falta de infraestrutura e de recursos específicos para o desempenho profissional.
Entretanto, além desses fatores, há outros considerados fundamentais para o desencadeamento da síndrome de burnout. A saber: problemas de relacionamento no ambiente de trabalho; ambiente de trabalho hostil, onde impera o autoritarismo, a falta de diálogo e, portanto, a falta de autonomia e liberdade dos colaboradores; e impossibilidade ou dificuldades do colaborador colocar em prática suas habilidades e potencialidades. Também cabe observar que características de personalidade e a baixa resiliência podem colaborar no desencadeamento e na intensificação dos sintomas da síndrome.
Além do sofrimento ocasionado pelo estresse do organismo, o burnout pode favorecer o aparecimento de outros problemas sérios, como tensões musculares, gastrites nervosas, problemas cardíacos, transtornos de ansiedade, depressão, perturbações do sono e até levar à morte em casos mais graves.
Para prevenir e combater esta condição, algumas empresas contratam psicólogos para intervir estrategicamente na redução do estresse de seus colaboradores. Por outro lado, muitas vezes as mudanças no ambiente de trabalho acabam ocorrendo a partir de medidas adotadas pelo próprio trabalhador.
Nesse sentido, algumas medidas são importantes, tais como: realizar pausas estratégicas entre as tarefas; reavaliar o modo de execução do trabalho – de maneira que ao perceber as atividades tidas como desprazerosas e aquelas mais gratificantes o trabalhador terá maiores condições de, por exemplo, administrar seu tempo na execução de suas funções -; procurar garantir o desenvolvimento de habilidades e potencialidades individuais; se aproximar de colegas de trabalho que demonstram maior resiliência para o enfrentamento do estresse laboral cotidiano, tomando-os como modelo; e manter um bom relacionamento interpessoal com os colegas de trabalho, através de atitudes empáticas e colaborativas.
Outras medidas são também imprescindíveis, como aquelas que extrapolam o ambiente de trabalho. Ou seja: desenvolvimento de atividades físicas regulares, alimentação adequada, preservação das horas e da qualidade do sono, momentos de lazer, desenvolvimento de atividades culturais e relaxantes, manutenção dos laços afetivos e sociais e exercícios de concentração, como práticas meditativas e ioga.
Finalmente, cabe ressaltar que a psicoterapia pode ser uma grande aliada, na medida em que, além de propor meios de enfrentamento e de resolução dos problemas no ambiente de trabalho, juntamente com o autoconhecimento poderá propor, se for o caso, um trabalho direcionado de planejamento de carreira ou mesmo de reorientação profissional.

(Colaboração de Marcelo Bosch Benetti dos Santos, Psicólogo, especialista em Psicologia Clínica, mestrando em Psicologia Clínica – PUC-SP).

Publicado na edição nº 9894, dos dias de 24 e 25 de setembro de 2015.