Sono roubado

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Provavelmente muitos dos leitores já passaram pela experiência de noites mal dormidas, sejam lá quais tenham sido os motivos. No dia seguinte as evidências são explícitas: sonolência, dores de cabeça, irritação e baixa concentração, todas denunciando a luta ocorrida na noite anterior. Se essa luta for intermitente e rara, o organismo não vai sentir as conseqüências ou mesmo apresentar sequelas permanentes. Entretanto, quando as noites se tornam pesadelos constantes, existe um problema e ele pode por a sua vida em risco.

O sono e seus males

Sob o ponto de vista da psicologia, o sono representa a via pela qual o inconsciente pode se expressar, permitindo ao corpo portanto, aliviar as tensões do dia. Na sua ausência, a torrente de tensões fica represada, causando uma mudança negativa no comportamento das pessoas.
Os males do sono em geral estão associados tanto a causas psicológicas como fisiológicas. Com relação às psicológicas, estudos indicam que os tempos modernos e principalmente a vida nas metrópoles se tornaram os grandes vilões do sono. Há muito tempo, num passado em que as pessoas preservavam naturalmente seus ciclos circadianos (ou relógios biológicos), era comum realizar os ditos populares “dormir com as galinhas” e “acordar com os galos” (ou com o canto deles), justamente porque esses ciclos, regulados pela melatonina (hormônio produzido pela glândula pineal), são ativados pela ausência de luz. À noite o nosso organismo produz grande quantidade desse hormônio, sendo que o pico de sua produção se dá entre três e quatro horas da manhã. A partir daí, inicia-se uma diminuição natural da produção, desencadeando o despertar.
A iluminação artificial dos grandes centros aliada ao bombardeio de estímulos no trânsito, no trabalho ou mesmo em casa, e, à falta de hábitos alimentares inteligentes, induzem às pessoas a fazerem da noite a continuação do dia. Nessas situações, a ansiedade passa a ser uma companheira inevitável e o sono um estranho desconhecido.
Por outro lado, as causas fisiológicas não podem ser esquecidas, pois além de atrapalhar o sono de muitas pessoas, pode por suas vidas em perigo. O ronco, a apnéia e a hipopinéia são os distúrbios mais comuns relacionados aos males do sono. A médica Lia Rita Bittencourt, professora da Universidade de São Paulo, indica as causas mais freqüentes dessas desordens: obesidade, hipotonia no tecido adiposo da faringe, queixo retraído, desvio de septo, aumento de adenoides, amígdalas e rinites. No caso das apnéias mais graves, o esforço de respiração está associado a paradas respiratórias, as quais podem reduzir o fluxo aéreo de 50% a 80%. As pessoas que se encaixam nesse quadro estão mais propensas a terem hipertensão arterial, funções cardíacas comprometidas, enfarto e acidente vascular cerebral.

Caminhos possíveis

Técnicas de relaxamento, chás a base de ervas como a passiflora, acupuntura, análise, exercícios físicos, e em casos mais graves, a própria cirurgia, são as mais variadas formas de se tratar os inimigos do sono. Como cada organismo tem um ritmo próprio, decidir por qual tratamento seguir deve ser sempre feito com a ajuda especializada. Tomar remédios sob orientação de parentes ou amigos não é uma saída inteligente. Atualmente existem exames como a polissonografia que fornecem informações detalhadas sobre as variáveis fisiológicas durante o sono. Por eles, o diagnóstico será preciso e a prescrição para o tratamento, mais adequada.
E fique atento, se o seu sono estiver indo embora com muita frequência, não ignore o fato simplesmente. Investigue e identifique as causas e as trate adequadamente. Não coloque sua vida em risco à toa. Você não merece.

Publicado na edição nº 10032, de 7, 8 a 9 de setembro de 2016.