Taxa de juros, setor produtivo e você

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A Abimaq, Associação Brasileira de Fabricantes de Máquinas e Equipamentos, acaba de divulgar o balanço referente a este setor para o primeiro semestre deste ano. E se não bastassem as más notícias ligadas à área no começo do ano de 2015, com queda em praticamente todos os índices de produção e perspectivas futuras, no mínimo, sombrias, o ofício de divulgação do documento para a imprensa traz também uma nota assinada pelo presidente do conselho de administração da entidade, Carlos Pastoriza. Nela, a associação faz uma “manifestação de Repúdio” ao aumento da taxa Selic perpetrado pelo Comitê de Política Monetária, o Copom, em sua última reunião de 29 de julho.
A taxa Selic é a taxa básica de juros que é usada nas transações do governo e determinada segundo critérios do próprio governo, “técnicos” ou políticos. O aumento dessa vez foi de 0,5 ponto percentual, passando dos 13,75% que vigoravam desde 3 de junho, para 14.25%.
A nota de repúdio se justifica, diz o presidente, pois: “no atual cenário, a alta dos juros significa mais um duro golpe e uma verdadeira catástrofe para o já combalido setor produtivo, justamente em um momento que o país necessita de mais e não menos investimentos, para que a economia brasileira possa dar sinais de retomada e evitar um mergulho na recessão, com consequente fechamento de centenas de milhares de postos de trabalho” e finaliza: “Estamos convictos de que há outros mecanismos para combater a inflação, enquanto o aumento da Selic, além de considerarmos não ser o instrumento mais eficaz, traz efeitos colaterais extremamente danosos, e talvez irreversíveis, para o setor produtivo”.
A entidade, que representa mais de 7,5 mil empresas por todo Brasil, está muito preocupada e não é à toa, o índice de encomendas do setor vem diminuindo muito no período analisado e a alta da taxa só vai potencializar ainda mais a queda. Por ser uma taxa básica, a Selic “sugestiona” todas as taxas de juros cobradas por agentes financeiros, em qualquer ramo de atividade, seja industrial, comercial ou pessoa física. Financiamentos, empréstimos, crediários e principalmente cheque especial e cartão de crédito ficaram ainda mais caros e restritos.
Se os juros cobrados do cheque especial, 14 % ao mês, já são extorsivos, os do cartão de crédito chegam às raias do absurdo: 20 % ao mês, 790 % ao ano, caso a fatura não seja paga integralmente. Não deve ser coincidência que os conglomerados bancários brasileiros andam tendo lucros estratosféricos. Mas a população em geral, muito pelo contrário, vê seu salário corroído e não corrigido na mesma proporção.
Eco de uma política econômica no mínimo estranha, a alta dos juros dificulta o acesso ao consumo, base do sistema capitalista, e que leva a um círculo vicioso de baixa na produção industrial, já visto no balanço semestral da Abimaq, e consequente desemprego, que leva a menos consumo e o que se apresenta é resumido em uma palavra: recessão.
Se os Estados Unidos e países da comunidade europeia estão saindo da crise de 2008 adotando uma taxa de juros básica próxima de zero, é de se perguntar: por que aqui é diferente?
Com a palavra o governo federal.

(…)

Leia mais na edição nº 9874, dos dias 6 e 7 de agosto de 2015.