Transtornos depressivos

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Marcelo Bosch Benetti dos Santos

Os transtornos depressivos, geralmente conhecidos como “depressão”, consistem em psicopatologias na qual a perturbação central ocorre no humor. O indivíduo com algum desses transtornos encontra-se com o humor deprimido, patologicamente rebaixado. Trata-se de uma condição diferente da tristeza e do luto normal, por vezes confundidos com as depressões.
Estes transtornos fazem parte de uma classificação psiquiátrica denominada Transtornos do Humor. Nesta classificação, além dos diferentes subtipos de depressão, estão também categorizados os quadros de expansão patológica do humor. Aqui, ao contrário das depressões, ocorre um aumento na quantidade e na velocidade da atividade física e mental do indivíduo. São os chamados estados maníacos ou hipomaníacos, que, caso se repitam ou sejam precedidos ou sucedidos por algum episódio depressivo, resultam em um diagnóstico de Transtorno de Humor Bipolar.
Os diferentes subtipos de depressão podem ocorrer como um único episódio depressivo ou vários episódios, de intensidade leve, moderada ou grave, com ou sem sintomas psicóticos, além da distimia. Eles podem atingir pessoas em todas as faixas etárias, incluindo crianças e idosos. Para se chegar ao diagnóstico é preciso que o indivíduo apresente uma série de sinais e sintomas que persistam geralmente por no mínimo duas semanas (de acordo com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da Classificação Internacional das Doenças/CID-10).
O quadro consiste em: humor deprimido, incapacidade de sentir prazer em várias esferas da vida e energia reduzida. Em acréscimo, são comuns ao menos mais dois dentre os seguintes sintomas: concentração e atenção diminuídas; auto-estima e auto-confiança rebaixadas; ideias de culpa e inutilidade; visões desoladas e pessimistas do futuro; atos auto-lesivos, ideações ou tentativas de suicídio; sono alterado (insônia ou hipersomnia); e perda ou aumento do apetite.
Dentre as causas dos transtornos depressivos, juntamente com fatores biológicos e neuroquímicos, estão geralmente envolvidos eventos e situações de vida estressantes especialmente relacionados a experiências de perda. Perdas que podem estar associadas a pessoas queridas, emprego, moradia, condição socioeconômica e até mesmo a algo puramente ideativo ou simbólico.
Em 1917, Sigmund Freud (neurologista de formação e criador da psicanálise) publica um artigo intitulado “Luto e Melancolia”. Neste trabalho, ele elabora noções em relação a esses dois fenômenos, comparando suas características. À época, tais formulações trouxeram mudanças fundamentais para o desenvolvimento da psicanálise, permanecendo atuais até hoje, de modo que possamos nos aprofundar na compreensão das depressões.
A diferença crucial entre as duas condições (o luto e a melancolia) consiste em que, na pessoa enlutada (luto normal) ocorre um empobrecimento e esvaziamento de interesses e investimentos no mundo externo, enquanto que no melancólico há um empobrecimento no seu Eu (ego). Ou seja, diferentemente do enlutado, o melancólico se culpabiliza, se insulta e se autocensura; uma parte de si (do seu Eu) desqualifica cruelmente a outra (“consciência moral”, conceito posteriormente ampliado para o de superego).
Além desse mecanismo distinto na melancolia, quando comparado com o luto, há outra diferença evidenciada por Freud: enquanto o enlutado está consciente do que perdeu com a morte ou separação da pessoa amada, na melancolia, se o indivíduo sabe quem perdeu, ele não sabe o que se perdeu…
É óbvio que essas características típicas na melancolia não necessariamente correspondem a todos os casos de depressão, que podem ter outra natureza ou serem compreendidos sob outra perspectiva, psicológica ou médica.
Entretanto, é importante destacar que além de um tratamento medicamentoso que muitas vezes as depressões exigem, um acompanhamento psicoterapêutico também o é. A psicoterapia permitirá que a pessoa amplie sua consciência quanto às causas e aos fatores que mantém a sua depressão ou qualquer outro sofrimento psíquico.
As alterações patológicas do humor consistem em categorias diagnósticas que nos permite delimitar algumas modalidades do sofrimento humano. Mas, a experiência dolorosa, única e singular de cada pessoa, quando reelaborada e ressignificada pela psicoterapia poderá se transformar em uma importante aliada para o enfrentamento dessas perturbações, como a chave que poderá abrir a porta do enclausuramento mental.

(Colaboração de Marcelo Bosch Benetti dos Santos, psicólogo, especialista em Psicologia Clínica e mestrando em Psicologia Clínica pela PUC-SP)