

Na década de 1920, ainda na época do Padre Francisco Garaud, a Paróquia de São João Batista adquiriu um harmonium importado da França, o qual serviu por décadas nos casamentos, missas e demais cerimônias religiosas. Passados cerca de 40 anos, o instrumento não mais atendia as necessidades, pois após passar por várias reformas, era cada vez mais difícil obter a sonoridade desejada.

Foi neste contexto que em abril de 1963 teve início um movimento junto aos paroquianos com o objetivo de adquirir um órgão eletrônico. Em agosto daquele ano, o grupo formado pelo maestro Pedro Pelegrino; o vigário da Paróquia, frei Querubim Rega; e o deputado estadual bebedourense, dr. Pedro Paschoal, fez uma viagem à cidade de Taubaté, onde seria inaugurado um órgão na igreja matriz daquela localidade.
Na oportunidade fizeram o primeiro contato com o responsável pela empresa “J. Edmundo Bohn & Filhos – Indústria de Órgãos e Harmônios”, de Nova Hamburgo, Rio Grande do Sul, sendo convidado para visitar a igreja matriz de Bebedouro para realizar um orçamento da fabricação e instalação de um órgão. O valor apresentado, de oito milhões e quinhentos mil cruzeiros, causou grande impacto, sendo considerado muito acima das possibilidades da comunidade paroquial.
No entanto, o deputado Pedro Paschoal assumiu a frente e autorizou a fabricação do instrumento, ficando combinado que após o final da Festa de São João Batista, o fabricante receberia a primeira prestação. E assim foi feito, sendo que a festa do padroeiro daquele ano atingiu o resultado líquido de dois milhões de cruzeiros.
Outra parcela, também de dois milhões de cruzeiros, foi paga com os resultados de uma campanha junto à comunidade católica, que incluiu a abertura de um ‘Livro de Ouro’, o qual foi iniciado por Aderval Guimarães Marques, que fez a doação de um terreno de sua propriedade, localizado nas proximidades da Igreja de Nossa Senhora Aparecida. As doações de maior valor, incluindo o referido terreno e um automóvel zero quilômetro, foram vendidas na forma de bilhetes, enquanto várias reses doadas foram levadas a leilão.
O restante do valor foi pago por meio de recursos obtidos por meio de projeto apresentado pelo deputado Pedro Paschoal à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
Considerado na época como o maior órgão de tubos do interior paulista, para que fosse feita a sua instalação foi necessária a reconstrução do espaço destinado ao coro na Matriz, sendo reforçado com colunas de concreto para suportar o peso de sete toneladas. Possui as seguintes especificações originais: 18 jogos de tubos, 3 carreiras registros livres, 5 botões de combinação fixa, 32 pedais para sub baixo, 1 pedaleira gelosia e 1 pedaleira crescendo. O móvel é fabricado em cedro e no estilo clássico.
A inauguração ocorreu em 19 de abril de 1964 com uma programação especial que teve início às 9h30, com a realização de missa solene, celebrada pelo bispo da Diocese de Jaboticabal, D. José Varani. Às 15h30 houve a cerimônia de descerramento da placa de bronze, dedicada aos paraninfos do instrumento, ou seja, aqueles que mais se empenharam para viabilizar o intento.
Na sequência foi realizada a benção do órgão e a execução do programa musical, pelo Maestro Frei Feliciano Greshake, da ordem franciscana. O repertório incluiu o Hino Nacional Brasileiro e peças dos compositores John Sebastian Bach, Tchaikovsky, Giacomo Meyerbeer, Alexandre Guilmant, Antonin Dvorak, e Josef Rheinberger. Ainda, foi proferido um discurso pelo deputado federal, padre Antônio Godinho.
Na placa inaugural consta a seguinte inscrição: “Louvai o Senhor em seu Santuário. Louvai-o com Harpa e Órgão. Perpetua Lembrança da Solene Inauguração do Órgão Monumental, com a presença de Dom José Varani, Bispo de Jaboticabal; Dr. Pedro Paschoal, Deputado Estadual, 1º Vice-presidente da Assembleia; Maestro Feliciano Greshake, ofm; da Comissão dos Festejos do Padroeiro de 1963 e dos insignes benfeitores. Bebedouro, 19 de abril de 1964. Frei Querubim Rega – Vigário.”
Nas décadas seguintes o órgão passou por vários processos de manutenção e de restauração, mantendo os tubos instalados no coro da Igreja, enquanto a consola, que inclui o teclado e a pedaleira, foi deslocada para outros espaços no interior do templo.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.853, de sábado a terça-feira, 29 e 30 de junho, 1º e 2 de julho de 2024