Um órgão eletrônico para a Igreja Matriz de São João Batista

José Pedro Toniosso

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Aspectos do órgão de tubos instalado no interior da Igreja Matriz de São João Batista desde 19 de abril de 1964, quando foi solenemente inaugurado.

Na década de 1920, ainda na época do Padre Francisco Garaud, a Paróquia de São João Batista adquiriu um harmonium importado da França, o qual serviu por décadas nos casamentos, missas e demais cerimônias religiosas. Passados cerca de 40 anos, o instrumento não mais atendia as necessidades, pois após passar por várias reformas, era cada vez mais difícil obter a sonoridade desejada.

Fonte: Acervo Senac/Bebedouro

 

Foi neste contexto que em abril de 1963 teve início um movimento junto aos paroquianos com o objetivo de adquirir um órgão eletrônico. Em agosto daquele ano, o grupo formado pelo maestro Pedro Pelegrino; o vigário da Paróquia, frei Querubim Rega; e o deputado estadual bebedourense, dr. Pedro Paschoal, fez uma viagem à cidade de Taubaté, onde seria inaugurado um órgão na igreja matriz daquela localidade.

Na oportunidade fizeram o primeiro contato com o responsável pela empresa “J. Edmundo Bohn & Filhos – Indústria de Órgãos e Harmônios”, de Nova Hamburgo, Rio Grande do Sul, sendo convidado para visitar a igreja matriz de Bebedouro para realizar um orçamento da fabricação e instalação de um órgão. O valor apresentado, de oito milhões e quinhentos mil cruzeiros, causou grande impacto, sendo considerado muito acima das possibilidades da comunidade paroquial.

No entanto, o deputado Pedro Paschoal assumiu a frente e autorizou a fabricação do instrumento, ficando combinado que após o final da Festa de São João Batista, o fabricante receberia a primeira prestação. E assim foi feito, sendo que a festa do padroeiro daquele ano atingiu o resultado líquido de dois milhões de cruzeiros.

Outra parcela, também de dois milhões de cruzeiros, foi paga com os resultados de uma campanha junto à comunidade católica, que incluiu a abertura de um ‘Livro de Ouro’, o qual foi iniciado por Aderval Guimarães Marques, que fez a doação de um terreno de sua propriedade, localizado nas proximidades da Igreja de Nossa Senhora Aparecida. As doações de maior valor, incluindo o referido terreno e um automóvel zero quilômetro, foram vendidas na forma de bilhetes, enquanto várias reses doadas foram levadas a leilão.

O restante do valor foi pago por meio de recursos obtidos por meio de projeto apresentado pelo deputado Pedro Paschoal à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Considerado na época como o maior órgão de tubos do interior paulista, para que fosse feita a sua instalação foi necessária a reconstrução do espaço destinado ao coro na Matriz, sendo reforçado com colunas de concreto para suportar o peso de sete toneladas. Possui as seguintes especificações originais: 18 jogos de tubos, 3 carreiras registros livres, 5 botões de combinação fixa, 32 pedais para sub baixo, 1 pedaleira gelosia e 1 pedaleira crescendo. O móvel é fabricado em cedro e no estilo clássico.

A inauguração ocorreu em 19 de abril de 1964 com uma programação especial que teve início às 9h30, com a realização de missa solene, celebrada pelo bispo da Diocese de Jaboticabal, D. José Varani. Às 15h30 houve a cerimônia de descerramento da placa de bronze, dedicada aos paraninfos do instrumento, ou seja, aqueles que mais se empenharam para viabilizar o intento.

Na sequência foi realizada a benção do órgão e a execução do programa musical, pelo Maestro Frei Feliciano Greshake, da ordem franciscana. O repertório incluiu o Hino Nacional Brasileiro e peças dos compositores John Sebastian Bach, Tchaikovsky, Giacomo Meyerbeer, Alexandre Guilmant, Antonin Dvorak, e Josef Rheinberger. Ainda, foi proferido um discurso pelo deputado federal, padre Antônio Godinho.

Na placa inaugural consta a seguinte inscrição: “Louvai o Senhor em seu Santuário. Louvai-o com Harpa e Órgão. Perpetua Lembrança da Solene Inauguração do Órgão Monumental, com a presença de Dom José Varani, Bispo de Jaboticabal; Dr. Pedro Paschoal, Deputado Estadual, 1º Vice-presidente da Assembleia; Maestro Feliciano Greshake, ofm; da Comissão dos Festejos do Padroeiro de 1963 e dos insignes benfeitores. Bebedouro, 19 de abril de 1964. Frei Querubim Rega – Vigário.”

Nas décadas seguintes o órgão passou por vários processos de manutenção e de restauração, mantendo os tubos instalados no coro da Igreja, enquanto a consola, que inclui o teclado e a pedaleira, foi deslocada para outros espaços no interior do templo.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.853, de sábado a terça-feira, 29 e 30 de junho, 1º e 2 de julho de 2024