Vale a pena recordar

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Tão visionário quanto realista. Tão amado quanto amou.

No Dias dos Pais há apenas dois times na disputa. Aquele dos filhos à procura de presentes que demonstrem o afeto e o carinho a quem lhes deu a vida (para estes, a Gazeta dedicou página especial no Boas Compras, na edição de quinta-feira). Na outra equipe estão os filhos à procura de lembranças que amainem a saudade. Nessa busca vale tanto a memória afetiva, quanto os guardados nas gavetas. Nessa hora, bate aquela nostalgia. Com estes filhos dividimos este espaço. E entre uma lembrança e outra, ganha preponderância aqui, a do homem exemplar, pai da Gazeta de Bebedouro, a partir de 1943.
No ano em que sua filha mais velha comemora 90 anos, ela quer justamente render-lhe homenagem e buscar no recôndito dos guardados, feitos inesquecíveis desse pai tão exigente quanto meigo. Tão visionário quanto realista. Tão amado quanto amou. Em 1943, época em que o mundo compartilhava uma sangrenta Segunda Guerra Mundial, Juca Caldeira, sempre acompanhado de sua esposa Sarah Pacheco Cardoso, escritora, artista plástica, começava a escrever, literalmente, a história da nossa cidade. Nos suados tempos da composição tipográfica, ele, através da Gazeta, participava ativamente de todas as atividades que Bebedouro se propunha realizar, sempre em busca de saciar uma nova necessidade, ou de revitalizar um antigo sonho… Sempre por e para Bebedouro.
Lutou pela implantação de uma faculdade na cidade, no longínquo 1958, que virou realidade em 1970, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Bebedouro. Juca Caldeira, em 1962, ajudou a criar e construir a Sociedade Recreativa José do Patrocínio, o popular Clube dos Pretos, exclusivamente para o lazer da comunidade negra de Bebedouro. E ele fazia parte da comissão com João Paulo de Carvalho, Ananias Manoel, Aparecido Ferreira dos Santos, Oduvaldo Pereira, homens de bem e defensores da igualdade racial.
E para realizar um de seus maiores objetivos fez parte de outra comissão, com Francisco Paiva, Pedro Maia, Waldemar de Mello, frei Antonio Preto, Rubens Paixão, para conseguirem fundar em 1972, a Apae de Bebedouro. Entidade que ele dirigiu por 15 anos. Exemplos de ações sociais, beneméritas e cidadãs de um pai jornalista, que criou sua filha mais velha para o mundo, para sobreviver à sua ausência, para que ela colocasse sempre em primeiro lugar, o coletivo, fosse esse coletivo, seus fieis leitores ou não. O importante era o bem estar da maioria.
Quase um século depois, vale a pena recordar, e com muito orgulho, do pai deste jornal, a Gazeta.
Aos pais presentes, aos pais ausentes, obrigado por nos fazer existir.

Publicado na edição nº 9730, dos dias 9, 10 e 11 de agosto de 2014.