As bolhas especulativas e as consequências

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Benedicto Dutra

 

Periodicamente no sistema financeiro ocorrem bolhas especulativas como a expressão concreta da existência de uma massa de capitais que excede ao potencial de produção e consumo, e que derivam para a especulação financeira com objetivo de gerar lucro, mesmo que não haja produção, pois seus detentores temem que ao manter seu dinheiro parado, ele perde valor diante da massa de liquidez diariamente produzida pelo sistema, ou pelas emissões promovidas pelos Banco Centrais. Não é difícil perceber que um dia a casa cai com o estouro das bolhas.
A grande riqueza provêm da natureza. A ex-primeira ministra da Noroega, Gro Harlem Brundtland, lançou alerta, (Rev. Veja): “Não se enganem. Os ponteiros do relógio estão andando. Sete bilhões de pessoas hoje coexistem em nosso frágil planeta, muitas perigosamente necessitadas de alimento, de água e de segurança econômica e física básicas”.
Ao se tornar o denominador das trocas, o dinheiro se tornou autônomo e trouxe essa particularidade de fazer dinheiro por si mesmo, o que teria exigido uma verdadeira ética para ser gerido de forma sadia sem provocar a corrupção dos valores pelos seus detentores. O dinheiro sem vida foi colocado num pedestal acima da fonte da riqueza, a natureza. Enquanto a natureza tem os seus limites na concessão de seus recursos, o dinheiro tende a se acumular indefinidamente, criando uma sensação de euforia e poder em seus detentores que procuram por todos os meios assegurar a sua multiplicação. No entanto o super-acúmulo, infalivelmente, acaba provocando distorções que se não forem expurgadas acabam comprometendo todo o sistema.
Os estouros das bolhas sempre promoveram expurgo quando a maré das valorizações se inverte derretendo bilhões. Agora estamos colhendo os efeitos desse derretimento de ativos financeiros, mas em uma situação muito diferente das anteriores porque os volumes são muito maiores, pondo de joelhos Bancos e governantes. No mundo inteiro a demanda se acha em contração. Ao mesmo tempo estamos nos defrontando com a consciência da limitação dos recursos naturais, que envolve a limitação de recursos para atendimento das necessidades da população em volume nunca alcançado anteriormente.
Observando o que se passa na Europa como consequências da crise com Bancos insolventes, e governos sem receita em volume compatível com seus encargos, fica difícil enfrentar a disparidade de custos de produção que inviabiliza a produção em vários países, que ficam sem condições de oferecer empregos em quantidade suficiente. E agora? Como sair dessa situação?
O Brasil tem de tomar todos os cuidados, pois já passamos por uma crise de dívida nos anos 1980. Ficamos estagnados praticamente por mais de 20 anos. Temos de fortalecer a economia fortalecendo o mercado interno, produzindo e consumindo através da utilização dos recursos disponíveis, reduzindo a dependência de comércio exterior, até que um novo e mais sadio equilíbrio seja estabelecido entre os países, na economia e finanças. É fundamental o equilíbrio nas contas, evitando-se o desperdício em obras supérfluas, não raro superfaturadas. Além disso, não podemos continuar ignorando a fundamental importância da educação e preparo das novas gerações, dando-lhes oportunidades para alcançar um melhor futuro como meio de assegurar a paz e o progresso real. Isso exige além dos investimentos necessários, um pacto de seriedade e boa vontade entre o governo, as elites e toda a população para inverter o pessimismo crescente.
Ademais, o mundo continua necessitando dos alimentos que podemos produzir, os quais deverão ser produzidos com esmero e em harmonia com o meio ambiente. Tomemos o exemplo da situação do feijão que no Brasil está preta. A produção de 2012 vai ter uma quebra prevista em 20%, chegando aproximadamente a 3 milhões de toneladas, enquanto o consumo é estimado em 3,6 milhões de toneladas. A produção não será suficiente abrindo espaço para a importação de feijão, que virá da Argentina e pasmem, da China também, e com custo inferior em 15%. O Ministério da Agricultura deveria estar organizando a atividade dos produtores para evitar situações como essa. Vamos produzir soja, exportar, ótimo, mas porque não conseguimos o suficiente de feijão de boa qualidade tendo de ir buscar o feijão chinês. O que será da típica feijoada brasileira? O que nos falta para que tenhamos uma gestão adequada tanto na produção e industrialização aptas a atender ao nosso consumo e gerar excedentes exportáveis, quanto no controle orçamentário, evitando-se os escandalosos desvios mostrados diariamente pela imprensa. Para acharmos o caminho para o desenvolvimento sustentável temos de reconhecer e respeitar as leis naturais da Criação.

(Colaboração de Benedicto Ismael Camargo Dutra, economista, administrador de empresas, articulista, escritor, palestrante de temas ligados à qualidade de vida e coordenador do site www.library.com.br. E-mail: [email protected]).

 

Publicado na edição n° 9419, dos dias 30 de junho, 1 e 2 de julho de 2012.