A convivência humana está corretamente suportável?

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Julio Cesar Sampaio

“… Apenas pelas palavras o ser humano alcança a compreensão mútua. Por isso, aquele que quebra sua palavra atraiçoa toda a sociedade humana”. – (Michel de Montaigne)

Quando a atmosfera da Europa do século XVIII atingira as alturas do insuportável, ou seja, a saturação de eruditismo intelectual, que, por toda a parte, homens ainda não totalmente falsificados ensinavam o retorno a uma vida mais natural e simples; onde o homem civilizado dava a triste impressão de um monstro de cabeça e coração atrofiados e o homem culto seria um ser erudito, um árido intelectualista, aparece alguém e, fazendo-se locutor da consciência ou subconsciência de milhares e milhões de seus contemporâneos, lançou no meio dessas nuvens lúgubres a faísca elétrica consubstanciada no grito: RETORNO À NATUREZA!!!(…).
Rousseau bradava: “o homem nasce bom, mas a civilização o corrompe”.
Metaforicamente, podemos assim contextualizar: Deus plantou o Éden, mas o homem, intelectualizando-se, abandonou esse paraíso e resolveu fundar cidades em vez de viver em jardins (…). E, a primeira cidade, segundo o Gênesis, foi edificada pelo primeiro assassino, Caim.
Até hoje, os “Abéis” dos campos são espontaneamente bons, ao passo que os “Cains” das cidades são perversamente maus, porque a civilização, criada pelo lúcifer do intelecto, é visualmente perversa e pervertedora.
O que Rousseau chamava por NATUREZA não era senão o apelo para o elemento intuitivo, não propriamente irracional, mas pré-intelectual e, por isso, também, ultra-intelectivo. Chegou ele à conclusão de que a vida humana baseada sobre o alicerce puramente empírico-intelectivo atrofia os reveses da vida, falsificando o ser humano.
Nossa convivência humana esta corretamente suportável?
Faça você mesmo tal arguição.
Basta observar ao seu redor (…).
Terminamos nosso apontamento, acerca da ‘natureza humana’, com a máxima de Rafael Chirbes: “Conseguir o amor de alguém que te despreza, ou a quem és indiferente, é uma tarefa bastante mais difícil do que atirá-la ao chão com um murro. Os homens batem por impotência. Julgam conseguir por meio da força aquilo que não alcançam por meio da ternura e da inteligência”.
(Colaboração de Julio Cesar Sampaio, Licenciado em Filosofia com pós-graduação no ensino de filosofia).

Publicado na edição nº 9920, dos dias 28, 29 e 30 de novembro de 2015.