As tragédias anunciadas dos deslizamentos, das destruições e das mortes no litoral norte de São Paulo têm causas conhecidas. Primeiro, o desrespeito à natureza. Ocupar morros, manguezais, construir bem próximo ao mar, é aceitar o risco de uma catástrofe.
Catástrofe cuja previsibilidade aumenta na proporção do extermínio da cobertura vegetal em todos os biomas. A emissão continuada e crescente de gases causadores do efeito-estufa agridem a atmosfera, provocam reações naturais e indesejáveis, pois o equilíbrio da vida neste planeta depende de muito juízo e prudência. Atributos que as atuais gerações não têm.
Respondem por essas lamentáveis mortes os que permitiram ou não proibiram as ocupações de áreas vulneráveis. Algo que é comum na profissionalização da política partidária num país de mais de quarenta fórmulas idealizadas para bem governar. Num país que se preocupa mais com Fundos Partidário e Eleitoral do que em fazer regularização fundiária e propiciar moradia condigna para uma população que não para de crescer.
A omissão no cumprimento da lei, a negligência diante do fato consumado, a intenção de parecer “bonzinho” perante desvalidos, pois os que podem já sabem o que devem fazer para não correr riscos, tudo isso cria cenários surreais. Todo o litoral norte foi vítima da insanidade da especulação imobiliária, dos maiores atentados perpetrados contra uma das mais belas paisagens da Terra. O lucro não respeita a ecologia, não respeita a estética, não respeita a vida.
Assim que uma área de proteção ambiental, imprópria para a edificação, vem a ser tomada por pessoas desprovidas de habitação, a solução política é a anistia. Leva-se energia elétrica, atendem-se a alguns reclamos para a coleta de lixo, enquanto se reforça a ocorrência do resultado final: o desmoronamento e a morte.
Não é difícil identificar quem anistiou situações insuscetíveis de serem toleradas. O difícil é fazer com que os responsáveis tenham a coragem de dizer “não”, pois o “sim” que não poderia ter sido pronunciado, apenas comprova que é comum, neste nosso Brasil, a delinquência bem intencionada. A natureza já se cansou de emitir sinais. Agora ela faz o que ela sabe: retoma aquilo que dela não poderia ter sido retirado.
(colaboração de José Renato Nalini, Diretor-Geral da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e autor de “Ética Ambiental” e de outras obras).
Publicado na edição nº 10.739 de quarta, quinta e sexta-feira, 8, 9 e 10 de março de 2023