
José Pedro Toniosso
No último dia 6 de junho a Gazeta de Bebedouro completou exatos 90 anos de existência. Nos meses que antecederam a data foi estampado na capa de cada edição um selo que anunciava a proximidade do evento comemorativo, o que fez despertar em mim a curiosidade sobre o que seria produzido pela equipe jornalística para registrar a efeméride.
Minha curiosidade relacionava-se justamente ao que foi escrito na apresentação da edição especial comemorativa dos 90 anos, ou seja, como selecionar em uma quantidade tão grande de informações o que fora mais significativo neste longo intervalo de tempo entre 1924 e 2014? Conforme indicado no texto daquela edição, até então haviam sido produzidas 9.702 edições, as quais se encontram reunidas em 206 volumes encadernados.
Para a História, o acervo da Gazeta caracteriza-se como um verdadeiro patrimônio, pois no processo de construção e reconstrução historiográfica, os jornais configuram-se como fontes fundamentais para os historiadores. Pesquisar este acervo permite-nos identificar os comportamentos e práticas sociais desenvolvidos neste período de tempo, sendo possível vislumbrar aspectos sociais, políticos e econômicos, assim como os agentes participantes do processo histórico nacional e, principalmente, local.
Se no passado a imprensa era vista com reserva enquanto fonte de pesquisa historiográfica, nas últimas décadas do século XX ela passou a ser considerada como recurso indispensável para a pesquisa, pois de acordo com o historiador francês Jacques Le Goff (1984), a conceituação de fontes ou documentos históricos refere-se hoje a todo e qualquer produto humano elaborado no tempo/espaço que tenha sido selecionado para estudo a partir da atribuição de sua importância por um pesquisador.
Para o historiador brasileiro Ronaldo Vainfas (1996), a História como ciência pressupõe metodologias específicas para a produção do conhecimento, o que inclui os materiais utilizados pelo pesquisador historiador. Estes, de acordo com o historiador inglês Peter Burke (1992), são definidos como fontes ou documentos históricos e o produto que o profissional elabora, conhecido como historiografia – ou escrita da história –, alinhava aquilo que o seu autor depreendeu a partir da análise da fonte escolhida para sua investigação.
Neste sentido, observa-se que a Gazeta de Bebedouro pode ser considerada como uma das principais fontes de pesquisa para a construção da história local. Ao analisarmos as diversas obras que de alguma forma remetem à história de Bebedouro e que foram produzidas nas últimas décadas, praticamente todas fazem referência direta ou indireta a este jornal. Algumas destas obras seguiram critérios metodológicos específicos da História, enquanto outras se preocuparam apenas em reunir informações que de alguma forma relacionavam-se entre si
São obras de caracteres distintos, como por exemplo, as do professor e memorialista Manoel Izidoro Filho, principalmente Reminiscências de Bebedouro (1991) e Gente que faz História (1996); assim como O futebol de Bebedouro, de Paulo Sérgio de Souza (2010) e As companhias ferroviárias e os ferroviários no processo de estruturação urbana e socioeconômica de Bebedouro, lançado por Silvio Carlos Bray em 2011 e, o mais recente, História da Citricultura de Bebedouro, de Luis Carlos Donadio (2014).
Publicações de caráter institucional também recorreram ao acervo da Gazeta, tais como os livros dedicados aos 100 anos da Associação Atlética Internacional (2006); aos 75 anos do Colégio Anjo da Guarda (2006), aos 50 anos do Educandário Santo Antônio (2009) ou aos 50 anos da Escola Estadual Abílio Alves Marques (2013). Outros tipos de publicações como revistas e jornais produzidos por associações, clubes, empresas e paróquias também vêm utilizando a Gazeta de Bebedouro como referência.
Assim também o fizeram e fazem os universitários, que vêem na Gazeta uma indispensável fonte de pesquisa para a elaboração de monografias, artigos, dissertações, ou seja, produções obrigatórias na vida acadêmica, o que pode ser percebido não somente em História, mas também em outros campos do conhecimento, como Geografia, Arquitetura, Economia, e muitos outros.
Diante do exposto, espera-se que a Gazeta de Bebedouro enquanto parte da imprensa escrita continue promovendo o registro da história contemporânea, uma vez que, conforme Francisco J. B. Pereira Filho (2004), a matéria básica que alimenta o jornal é a notícia, definida classicamente como o relato ágil do cotidiano que pretende responder às indagações ‘que, quem, quando, onde, porque e como’.
Desta forma, ao representar os acontecimentos ocorridos na sociedade, a Gazeta de Bebedouro configura-se não somente como um veiculo de informação, mas pode ser reconhecido também como o mais importante potencializador e guardador da memória local, cujo acervo merece ser preservado, o que em muito contribuirá para a continuidade da escrita da História.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, bebedourense mestre em história, professor universitário).
Postado na edição nº 9711, do dia 26 e 27 junho de 2014.