
Eduardo Iha
Ali é o lugar de onde se observa tudo o que se passa, inclusive, trens imaginários, idosos com seus passos lentos, crianças ao colo de suas mães, adolescentes e jovens com os olhos fixos na telinha dos seus smarthfones, a conversar com seus parentes e amigos digitais.
Lá fora, o sol de setembro brilha, neste início da Primavera! O astro-rei enche de luz a casa de cada cidadão – e a vida segue implacável.
O ano, sempre muito veloz, trilha o seu caminho como se fosse um trem – que saudades de quando ele pressionava os trilhos da Fepasa em Bebedouro! Tempos que se foram e que dificilmente voltarão, ainda mais quando se deixa cair no esquecimento qualquer trabalho com esse objetivo.
Mas não é de hoje que muitos moradores da cidade, sobretudo os mais antigos e saudosistas, carregam essa mania de imaginar um trem quando pensam no ano que vai passando, sempre determinado e preciso. É que naquele tempo, que já vai longe, as pessoas tinham mania de acertar o relógio pelo apito do trem, tal a precisão dos horários de embarque e desembarque!
Não há mesmo como deter o tempo nem como impedir a mente de pensar em sua força e na voz férrea dos trilhos. Aquele barulho de ferro, sendo esmagado como símbolo de movimento, de progresso e de orgulho, vai seguir na mente ‘por todo o sempre’.
Quantos passageiros – e até o maquinista – acenavam sorridentes! Esses vagões parecem mesmo brincar de desafiar a saudade nestes dias quentes de setembro!
Olhe lá, a senhora, debruçada no parapeito da janela feita de madeira de lei, tentando adivinhar o pensamento, miúdo ou ambicioso, dos que chegam à Cidade Coração e dos que se vão – para um dia voltarem! Afinal, a cidade é campeã de acolhimento! Ela parece cumprimentar a todos com um bom dia à distância, mas perfeitamente correspondido.
Esse trem, com seus vagões enfileirados, que imitam uma imensa cobra à procura de novos horizontes, animam qualquer um a começar o dia – e a acreditar nesta primavera e em tantas outras que virão.
Sabe por que essa nostalgia agora!? É o sentimento um tanto primaveril. Uma janela de ontem que, por certo, é aberta como um objeto feito não só para encher de claridade o lar, mas para o ser humano partir em busca de si mesmo.
A janela é o lugar de onde se observa tudo o que se passa, inclusive, trens imaginários, idosos com seus passos lentos, crianças ao colo de suas mães – hoje das babás-cuidadoras -, adolescentes e jovens com os olhos fixos na telinha dos seus smarthfones, a conversar com seus parentes e amigos digitais.
São os novos tempos, que anulam os trilhos do trem, freiam a imensa fila de vagões, ferem a intimidade da casa e da senhora na janela, atiram para um lugar a perder de vista, distantes mesmo, os olhares nostálgicos.
O cotidiano real pede agora para o mundo dos sonhos se aventurar na realidade dos dias que se seguem, um após o outro, como vagões.
Até porque, olhos e mentes também são janelas, por meio das quais é possível vivenciar a magnífica explosão de formas e cores que compõem as imagens de toda esta vida que se presencia agora e que, tomara (!), penetre na alma de cada cidadão, mas de forma sadia e que venha provocar saudades daqui a algum tempo.
Pra encerrar esta reflexão nostálgica, mas um tanto quanto atual, será que os trens é que deixam as pessoas sentimentais (?!), ou a primavera que bate à porta do brasileiro!?
Reflita sobre isso!
(Colaboração de Eduardo Iha, Jornalista).