Acredite: é verdade!

José Renato Nalini

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Os brasileiros jovens podem não acreditar, mas já houve homem público mais do que decente: abnegado, disposto a sacrifícios, imune a ambição e a cupidez. Um deles foi Diogo Antônio Feijó, paulistano que atuou na política do Império, foi Ministro da Justiça e o primeiro Regente, quando o comando imperial deixou de ser entregue a um trio e passou a ser responsabilidade de uma só pessoa.

Quando Ministro da Justiça do Brasil – de abril de 1831 a julho de 1832 – enfrentou toda espécie de dificuldade. Assumiu assim que D. Pedro I abdicou. O país estava em convulsão. Polarização entre os que odiavam o Imperador e os que o idolatravam. Assassinatos e violências.

Ele colocou ordem no Império. Mas o Parlamento negava seus pleitos. Feijó já declarara numa sessão da Câmara dos Deputados que de boa vontade cederia o posto a quem o ambicionasse. Mas sendo paulista, correspondia em sentimentos aos seus comprovincianos, que não retrogradavam. Negados os recursos imprescindíveis à continuidade de sua obra, deixou o ministério.

Partiu do Rio para São Paulo num domingo de agosto. Dezesseis amigos o acompanharam até Benfica, onde estava toda a sua bagagem: duas canastras sobre um burro, cedido por um tropeiro paulista. O tropeiro viera ao Rio a negócios e emprestou a Feijó o cavalo em que montou para voltar a São Paulo.

Foi cavalgando, ao lado de um fiel empregado, que ele retornou à sua cidade. Foi para sua modesta casa da rua da Freira e para a sua chácara na Mooca, chamada Paraíso. Tudo muito simples para um homem que, de acordo com um jornalista da época, “conteve os partidos, manteve a ordem, fez respeitar a lei, animou os desalentados, neutralizou o ódio aos adotivos, dando repetidos exemplos de honradez e severidade, ele que, depois de ser ministro onipotente ia encontrar-se na sua lavoura com a mesma pobreza que lhe realçava o caráter e a inteireza de ânimo. Sempre sem parentes, tudo deve ao seu próprio esforço; e, sempre sem parentes, nunca sentiu opressão moral de qualquer espécie no reto desempenho dos seus cargos e no rigoroso cumprimento dos seus deveres”.

Afirmava um patriota, em profecia que não se confirmou, “que os velhos hão de mostrar aos moços, no bronze indestrutível, a figura do homem gigantesco, cuja vida inteira é um exemplo sem par e uma glória imorredoura para a nação, que tão grande filho produziu”.
Quem é que hoje fala a seus filhos e netos sobre o Padre Diogo Antônio Feijó?

Amazônia para todos

O Brasil é conhecido no restante do mundo pela Amazônia. A última grande floresta tropical do planeta está quase toda em nosso país. Circunstância que levou alguns exaltados a proclamarem nosso direito a destruí-la: uma questão de “soberania”.

O bom senso precisa prevalecer numa terra que já produziu Paulo Nogueira Neto, Chico Mendes, Aziz Ab’Saber e outros heróis ecológicos e que ainda possui Carlos Nobre, o único brasileiro a integrar a Real Society de Londres. Bom senso evidenciado pelo Presidente Lula ao comparecer, ainda antes da posse, à COP-27. Reforçado com a escolha de Marina Silva para liderar o Ministério do Meio Ambiente. Consolidado na visita à Casa Branca, oportunidade em que propôs a Joe Biden uma governança global para a Amazônia.

Textualmente, Lula afirmou que a Amazônia não é apenas “um santuário da humanidade”, mas deve ser um “centro de pesquisa compartilhado com o mundo todo”. Certíssimo. Interessa a toda a humanidade a preservação desse patrimônio que, antes mesmo de ser descoberto, foi condenado ao extermínio pela ganância de braços dados com a ignorância.

O trabalho de redescoberta e de revalorização amazônica deve ser de todos: Estado e sociedade. Todas as Universidades precisam ter campus na região, para pesquisar a exuberante biodiversidade que garantirá nosso amanhã. Para ampliar o campo de trabalho de pesquisadores, protetores da floresta, cuidadores, guias turísticos, plantadores, agricultores sustentáveis, toda uma gama profissional bem diversa da variada criminalidade que ali se estabeleceu. Em lugar de garimpeiros, posseiros, ocupantes, grileiros, assassinos, contrabandistas, pessoas sérias, conscientes de que aquele tesouro é suficiente para o sustento de inúmeras gerações.

O empresariado precisa levar à Amazônia a sua expertise, para produzir valor agregado e não se resignar ao extrativismo primitivo, à exportação de commodities, sujeitos às vicissitudes do mercado. A sociedade civil precisa despertar infância e juventude para conhecer e se orgulhar da Amazônia, que pode e deve ser o destino de quem queira mudar – para melhor – o futuro do Brasil. Amazônia para todos os humanos, com o Brasil como anfitrião lúcido e acolhedor, não como dendroclasta que o converteu em Pária Ambiental, vergonha que não pode ser esquecida, sob pena de ser repetida.

(Colaboração de José Renato Nalini, Diretor-Geral da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras).

Publicado na edição 10.743 de quarta, quinta e sexta-feira, 22, 23 e 24 de março de 2023