Sob a direção magistral de Walter Salles, “Ainda Estou Aqui” emerge como um dos filmes mais impactantes do cinema nacional dos últimos anos. Baseado na trajetória de Eunice Paiva, o longa é um convite à reflexão sobre memória, resiliência e amor à vida, mesmo diante das adversidades mais profundas, tendo como plano de fundo as durezas da ditadura militar no Brasil. A sensibilidade com que a narrativa é conduzida transforma cada cena em um mosaico de emoções, capturando o espectador desde os primeiros minutos.
Fernanda Torres entrega uma das performances mais marcantes de sua carreira, encarnando Eunice com uma força que transcende a tela. Sua atuação é visceral, repleta de camadas, e nos faz mergulhar profundamente na história da personagem. Ao seu lado, Selton Mello brilha em um papel que combina intensidade e sutileza, demonstrando, mais uma vez, por que é um dos grandes nomes da atuação brasileira.
O elenco inteiro é um espetáculo à parte, reunindo talentos de peso como Marjorie Estiano, Dan Stulbach, Humberto Carrão, Valentina Herszage, Antônio Saboia e Maeve Jinkings. Cada um desses nomes traz um toque único ao filme, contribuindo para criar um universo repleto de autenticidade e emoção. A química entre o elenco é palpável, elevando o impacto de cada cena.
A direção de Salles merece todos os aplausos por sua habilidade em unir delicadeza e densidade, principalmente retratando um período tão difícil da nossa história, completamente necessário neste atual momento. A fotografia capta a beleza nos detalhes mais simples, enquanto a trilha sonora, composta por arranjos melancólicos e esperançosos, acompanha perfeitamente o tom do filme. A montagem, com ritmo preciso, mantém o espectador imerso na jornada de Eunice e de sua família.
Destaque especial para a cena final, protagonizada por Fernanda Montenegro. Com uma interpretação poderosa, mesmo sem falas, a veterana atriz entrega carga emocional que arrepia. Sua expressão e postura dizem mais do que qualquer diálogo poderia, encerrando o filme com uma força inesquecível que ecoa no coração do espectador.
Com “Ainda Estou Aqui”, o Brasil se firma como uma potência criativa no cinema. O filme é apontado como um forte candidato a representar o país no Oscar, e Fernanda Torres desponta como uma das favoritas à indicação de Melhor Atriz. Se confirmada, será a segunda brasileira a conquistar tal feito, repetindo a honrosa indicação de sua mãe, Fernanda Montenegro, em 1998, por Central do Brasil, do mesmo diretor. Juntas, mãe e filha reafirmam o legado da atuação nacional no cenário mundial.
“Ainda Estou Aqui” não é apenas um filme; é uma experiência cinematográfica que nos lembra do poder transformador da arte. Se ainda não assistiu, prepare-se para chorar e se emocionar com uma das melhores obras do ano, que está em cartaz no cinema de Bebedouro.
Publicado na edição 10.890, sábado a sexta-feira, 23 a 29 de novembro de 2024 – Ano 100