Nascemos na cidade, vivemos na cidade e nela morreremos. Ninguém tem pressa quanto a esse acontecimento democrático, aquele que não poupa sequer um vivente. E para prolongar a vida em nossas conurbações, é preciso plantar árvores.
O aquecimento global gera temperaturas elevadas em todo o Brasil e é urgente adaptar nossa cidade ao novo cenário climático. A capital paulista, além de registrar temperaturas superiores a 35ºC, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, foi a cidade mais poluída do mundo durante alguns dias.
Os extremos térmicos são nefastos para a saúde. As ondas de calor matam mais do que as de frio. A internação de idosos, de hipertensos, de diabéticos, de portadores de problemas cardiovasculares, de asmáticos, de crianças e de gestantes, é uma realidade empiricamente constatável na rede de saúde pública de todas as cidades.
As áreas mais vulneráveis são aquelas habitadas por pessoas carentes, que constroem sem qualquer tratamento térmico, o que faz dos despossuídos os mais prejudicados. Uma questão de injustiça climática suscetível de uma resposta que deve ser dada pelo Poder Público, mas que não prescinde da colaboração da sociedade.
É científica a constatação de que existe uma surpreendente diferença de temperatura entre bairros providos de árvores e outros que não contam com essa ferramenta verdadeiramente milagrosa. Chega a 12ºC a diferença entre um e outro.
A arborização deixa de ser uma questão ambiental, de estética paisagística, para se converter numa séria problemática de saúde. É obrigação do governo prover de árvores todas as ruas, todos os bairros, todas as regiões. Mas é obrigação da população defender as árvores, colaborar com o plantio e com os cuidados carinhosos, sem os quais as mudas não se desenvolvem e as espécies arbóreas adultas não sobrevivem.
É lastimável que ainda existam pessoas que não queiram árvores defronte de suas casas. Os argumentos pueris e ignorantes dão conta de que a árvore pode quebrar a calçada, que suas folhas obrigam a moradora a varrê-las, que as árvores servem para o esconderijo de bandidos. Esse preconceito precisa acabar. Uma população realmente educada e civilizada, é a primeira a pleitear mais árvores em seu território. Na verdade, a sociedade civil deveria oferecer soluções ao Poder Público, na multiplicação dos chamados “jardins de chuva”, na criação de “florestas urbanas” e na reserva de “vagas verdes”. Estas, para mostrar que a cidade não foi feita para o automóvel, mas para as pessoas que nela residem.
Se você quer viver mais, e viver com qualidade, seja um defensor de árvores. E se for um plantador de árvores, melhor ainda.
(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e secretário-executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo).
Publicado na edição 10.887, de sábado a quinta-feira, 9 a 14 de novembro de 2024 – Ano 100