
Acabei de completar 20 anos de advocacia e, por isso, várias recordações vieram-me à mente, em especial a respeito de dificuldades iniciais que tive em minha trajetória. Assim, frente à experiência adquirida ao longo dos anos, permito-me escrever aos jovens advogados, alguns dos quais tive o prazer de tê-los como alunos à frente da disciplina de Direito Processual Civil.
Para tanto, apresentarei alguns breves conselhos que gostaria de ter ouvido quando ainda eu era um jovem advogado, cheio de sonhos e de incertezas.
Primeiramente, façam do estudo diário um hábito. O profissional do Direito deve ser um eterno estudante. Há advogados que estudam com os olhos voltados para o caso concreto e há os que, além disso, também estudam para fins acadêmicos ou de pesquisa, mas em ambas situações são comuns o gosto pela leitura e a busca pelo saber.
Estamos vivenciando a era do conhecimento – inclusive tecnológico –, o bem mais caro dentre todos aqueles que circulam na sociedade contemporânea, que, uma vez adquirido, ninguém pode retirá-lo. Por isso, a prioridade não deve ser a obtenção de bens materiais. Isso há de ser consequência do trabalho bem realizado, com eficiência e dentro dos deveres éticos de conduta.
O Direito é um ramo do conhecimento em constante processo de modificação, sendo (re)construído quotidianamente com o surgimento de novas leis, novos precedentes judiciais e novas teorias. Quem se mantém atualizado, em aperfeiçoamento constante, sai na frente dos demais.
Nem a crise econômica é empecilho para isso, eis que na internet há, gratuitamente, periódicos de qualidade, cursos abertos em Universidades brasileiras e estrangeiras, bem como acervo das decisões judiciais nos sites de todos os tribunais.
Segundo, busquem se espelhar em advogados que sejam modelos de atuação profissional. O exemplo é o melhor dos professores. Quem é sábio não o despreza. A história de sucesso de grandes advogados pode ser inspiradora e servir de bússola para a adoção de caminhos menos espinhosos, inclusive para orientação da área de atuação profissional que tenham vocação.
Terceiro, a advocacia é uma carreira. Não tentem colocar o carro na frente dos bois. É preciso persistência para chegar aonde se deseja. E, para tanto, se houver algum atalho que se desvia da ética profissional, não o siga, porque não vale a pena.
Por fim, mas não menos importante, eu aconselho ao jovem advogado refletir sobre o papel que deve desempenhar no âmbito da sociedade contemporânea, marcada pelo individualismo exacerbado, que muitas vezes nos cega às dores do mundo. De que adianta estar individualmente confortável, se ao redor o cenário de injustiça e desigualdade é gritante?
O Brasil já foi a 8ª maior economia do mundo, mas, em contrapartida, é hoje apenas o 84º no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano. Se lutarmos para encurtarmos a distância entre estes dois índices, certamente estaremos empreendendo esforços para tornarmos o Brasil um país mais justo.
Pode ser utopia, mas ainda assim é válido segui-la, na esteira de Eduardo Galeano: “A utopia está no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte se distancia dez passos mais além. Para que serve a utopia? Serve para isso: caminhar”.
(Colaboração de Gustavo Schneider Nunes, advogado, professor, doutorando em Direito pela Unaerp, e-mail [email protected])
Publicado na edição 10.586, de 16 a 18 de junho de 2021.