O gênero novela ultrapassou seus 70 anos no Brasil e, ainda assim, continua aguçando a curiosidade do público do país inteiro. Em 20 de março, a Globo estreou mais uma novela das seis, ‘Amor Perfeito’, escrita por Duca Rachid, Júlio Fischer e Elísio Lopes Jr, com direção artística de André Câmara e em três semanas no ar, a novela apresentou tantos acontecimentos, que o público está com a sensação de já estar na metade dela.
Afinal, quais os benefícios e as desvantagens de apresentar uma história tão ágil em pleno 2023. Há quem pense que só existam vantagens, mas é ai que mora o perigo.
Claro que nos dias atuais, todos querem ver histórias mais rápidas, sem enrolação. As novelas tiveram que se adaptar a isto e, consequentemente, seus autores, principalmente os mais veteranos. ‘Amor Perfeito’ traz em sua fórmula todos os ingredientes para uma trama das 18h, amor impedido de acontecer, muito drama, ambientação épica. O público do horário clama por isto e os autores sabem bem da situação. Os três roteiristas souberam bem colocar os ingredientes necessários em uma narrativa ágil, com personagens carismáticos e uma direção de dar água na boca.
Somente nos 15 primeiros capítulos, o público já foi apresentado a sequências que poderiam, mesmo com a busca pela agilidade, terem esperado mais para acontecer, como o encontro da mocinha Marê (Camila Queiroz), que passou oito anos presa, injustamente, com a vilã Gilda, de Mariana Ximenes, que armou tudo isto. A volta da mocinha, assumindo os negócios da família e botando a vilã para fora de casa também poderia ter esperado uns capítulos a mais. Mas, os autores preferem entregar tudo de uma vez ao público. O telespectador, por sua vez, agradece. É um artifício bem arrojado para segurar a audiência que não está ruim.
Mas, a pergunta que fica é: Haverá história a ser sustentada em mais de 150 capítulos a serem exibidos? Com tantos acontecimentos e ainda sem apresentar fortemente os núcleos paralelos, como os autores vão segurar a narrativa sem cair na armadilha mais terrível de uma novela: a barriga.
Não é raro ver autor enrolando e enrolando o público, cerca de um ou dois meses sem nada de novo acontecendo, aquela velha sensação de a história andar em círculos.
Os atores estão bons, Ximenes entrega uma vilã à altura da novela. Queiroz defende bem a mocinha romântica e tem muita química com Orlando, papel de Diogo Almeida e com Júlio, de Daniel Rangel. Por falar no triângulo central, os autores poderiam ter aproveitado mais para explorar o amor de Marê e Orlando, parece não ter dado tempo para fixar melhor este amor entre os dois e a construção de casal favoreceu, mesmo que inconscientemente, Julio, apaixonado pela mocinha desde a infância.
A novela segue boa, se encaminha para sua quarta semana no ar com muito ritmo e sem perder o fôlego, pelo menos por enquanto. Que não seja a barriga, a imperfeição deste amor perfeito das 18h.
Publicado na edição nº 10.747, sexta a terça-feira, 7 a 11 de abril de 2023