A Apple revelou sua estratégia para integrar sua IA, chamada Apple Intelligence, em seus produtos com destaque aos recursos para oferecer serviços personalizados e fortalecer a segurança dos dados dos seus usuários. Tim Cook, CEO da Apple, acredita que “a inteligência da Apple será indispensável”.
Essa preocupação está em consonância com o posicionamento dos consumidores, especialmente mais jovens, quanto à proteção da privacidade. De acordo com pesquisa de privacidade realizada pelo Cisco Systems, os consumidores estão bastante preocupados com a forma como as empresas treinam, implementam e usam a IA.
A implementação de padrões de privacidade favorece o engajamento no cumprimento das diretivas estabelecidas, proporciona o planejamento de investimentos de forma preventiva e internaliza a cultura de inovação e proteção desde a concepção do produto, reduzindo custos com sanções regulatórias, ressarcimentos por defeitos em produtos e serviços, além de intangível dano reputacional.
A aposta da empresa é que as funcionalidades da inteligência artificial serão realizadas no próprio dispositivo do usuário (dentro de cada iPhone, por exemplo), minimizando a necessidade de compartilhamento de dados com terceiros, especialmente provedores em nuvem, garantindo que, quando for necessário o compartilhamento externo dos dados dos usuários, estes serão criptografados e excluídos após o uso.
A implementação da criptografia é uma forma de limitar a exposição de dados, tornando-os ininteligíveis e minimizando o risco de interceptação indevida, desde que seja aliado a um processo forte de controle de acesso para alcançar um alto nível de segurança aos dados pessoais.
Para tanto, a Apple precisa investir cada vez mais na tecnologia do chip embarcado em seus dispositivos, contudo, isso não a torna imune a vazamentos ou violações a privacidade dos usuários, mas é uma camada de segurança importante para defesa contra tais violações, somando-se a necessidade de integrar a governança em inteligência artificial de forma responsável através de uma abordagem holística que considere não só a tecnologia, mas também os impactos éticos, legais e sociais.
Na Conferência Mundial de Desenvolvedores, conforme veiculado pelo MIT Technology Review, a Apple apresentou exemplos práticos da funcionalidade nas próximas versões do iOS, onde os usuários poderão pedir à Siri para localizar uma mensagem antiga e compartilhar com um contato, substituindo as buscas manuais. Além disso, o sistema será capaz de prever tráfego e encontrar documentos relevantes, ajudando na organização de compromissos pessoais e profissionais.
Caberá às autoridades responsáveis a fiscalização sobre a eficiência dessas medidas, além da faculdade do titular exercer seus direitos individualmente, em conformidade com o princípio de accountability, responsabilização e prestação de contas, que corresponde à obrigatoriedade das empresas em demonstrar medidas eficazes e cumprimento das normas de proteção de dados.
O enfoque proativo em segurança e privacidade, desde a concepção do produto, não só ajuda as organizações a cumprirem requisitos regulatórios, mas também promove uma cultura de respeito à privacidade do usuário, essencial na construção de relações de confiança com os titulares, demonstra a existência de uma governança eficaz e proporciona sustentabilidade aos novos negócios.
(Colaboração de Rodrigo Toler, advogado de Privacidade e Proteção de Dados no Opice Blum, Bruno Advogados; Mestre em Direito, Tecnologia e Desenvolvimento pelo IDP. Email: [email protected]).
Publicado na edição 10.860, de sábado a terça-feira, 27 a 30 de julho de 2024 – Ano 100