Estarrecedor! Nestes últimos três anos, o governo federal armou mais civis do que o total dos integrantes das forças armadas, incluindo as polícias militares de todos os vinte e sete Estados brasileiros!
O que se pretende com esse festival de horrores, a permitir que ditos “colecionadores” possam possuir até trinta armas, de todos os calibres e que os “esportistas” do tiro tenham direito a porte de sessenta instrumentos letais? Tudo com a garantia de munição correspondente.
Foram criados “Clubes de tiro” à razão de um por dia! Ou seja, as armas ganham espaço, enquanto as livrarias e bibliotecas desaparecem. Retrocesso nefasto, indizível para a propalada nação pacata, cordata, amistosa e pacífica.
Tudo ao contrário do que o povo quis ao elaborar um novo pacto fundante em 1988: edificar uma Pátria justa e solidária, tolerante, em que deveria reinar a fraternidade entre todos. O constituinte, em nome da cidadania – única titular da soberania – erigiu a fraternidade como categoria jurídica. Só que a prática escancara a impotência da Constituição e de todas as leis, quando a vontade tirânica se impõe.
Arma, ferramenta para matar, não deveria sequer ser fabricada. Mas o lobby das indústrias que vivem da disseminação da violência faz questão de divulgar inverdades: a falácia de que o armado tem condições de se defender. De quem, cara pálida? As tecnologias já produzem aparelhos que neutralizam sem o resultado final homicida.
O que se gasta em armamento seria suficiente para alimentar os famintos e para fazer o replantio da sanha assassina que acaba com os nossos biomas.
Todos sabem que possuir uma arma, num país de desempregados, de famintos, de desesperançados, é brincar com a má-sorte. Basta verificar as “balas perdidas”, as chacinas que são confundidas com faxinas, pois os que morrem são os invisíveis, os excluídos, os carentes e os abandonados.
Triste Brasil, que se converteu numa nação aguerrida e agressiva, de intolerância, de discurso de ódio, de orçamento secreto e que, de tanto se armar, agora pode ser chamado país desalmado! Sem alma, sem piedade, sem vergonha de matar milhares de jovens a cada ano. Até onde, Senhor, nos manterá entregues à insanidade?
(Colaboração de José Renato Nalini, Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022).
Publicado na edição 10.694, quarta, quinta e sexta-feira, 24, 25 e 26 de agosto de 2022.