
Benedicto Dutra
No Brasil ainda estamos atrasados por vários fatores, mas o básico tem sido a falta de uma vontade perseverante na construção de um país equilibrado que ofereça oportunidades lucrativas para o trabalho sério e bem feito. Por enquanto, tem prevalecido a ânsia por ganhos fáceis e o desejo de levar vantagens sem precisar fazer esforço, e a ausência de uma vontade férrea de dar bom preparo para as novas gerações. Parece que fomos sabotados e nossos governantes deixaram de cumprir o que era esperado deles ao não promoverem o desenvolvimento das capacitações humanas da população, elevando a sua qualidade.
Há muito a recuperar para o continuado fortalecimento das bases de produção que permaneceram estagnadas desde a sua origem, sem que houvesse maior empenho para reduzir custos e oferecer melhor qualidade. Temos problemas na infraestrutura. Privilegiamos o transporte rodoviário sucateando as poucas ferrovias existentes ao invés de ampliá-las. O custo da energia elétrica chega a ser vergonhoso. A telefonia é cara e deficiente. A burocracia é paralisante. A regulamentação tributária e as alíquotas são desanimadoras. Necessitamos da simplificação burocrática e a adequação tributária aos padrões internacionais.
O vigor da classe empreendedora está se exaurindo, e nunca tivemos uma condição tão precária como agora no preparo das novas gerações para a vida e o trabalho. Com a crise internacional os empregos se reduzem, o consumo diminui, os preços caem, a competição aumenta. Urge que se faça um esforço integrado de revitalização industrial, com sustentabilidade, qualidade, eficiência e aumento da produtividade.
As empresas devem assumir a sua parte na formação e bom preparo da mão de obra, incluindo também as crianças, os filhos de seus colaboradores, contribuindo com a implantação de creches que contribuam para a formação de seres humanos de qualidade que desejam ser úteis.
Um outro aspecto importante é a participação dos colaboradores nos resultados através de programas de aumento de produtividade, que fortaleçam a motivação e melhorem os resultados, o sentimento de pertencimento e o desejo de busca continuada de progresso que deve se refletir no respeito ao consumidor através da qualidade dos produtos oferecidos.
Vivemos a euforia da primazia do mercado financeiro no comando da economia impulsionada pelo aumento do fluxo de bens, capitais e serviços, mas quando as coisas não dão certo, surgindo as crises, o Estado é chamado para assumir a responsabilidade perante a opinião pública e tentar repor as coisas no lugar à custa de muitos sofrimentos.
Os desequilíbrios mostram a sua cara. O sistema tende para o colapso. A especulação torna o futuro imprevisível, impedindo o surgimento de planos duradouros. Os recursos naturais chegam ao limite enquanto a população continua aumentando.
Sem o adequado preparo para um viver equilibrado visando acima de tudo o desenvolvimento e maturidade espiritual, tudo o mais se torna um paliativo na direção do caos. Precisamos de um sistema que além de visar o lucro, seja ético no sentido de atender as necessidades com eficiência e harmonia entre os indivíduos e os povos, indicando caminhos que vão além do atendimento das necessidades materiais, propondo o desenvolvimento integral dos seres humanos.
(Colaboração de Benedicto Ismael Camargo Dutra, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP. Um dos coordenadores do www.library.com.br, autor dos livros. E-mail: [email protected]).
Publicado na edição n° 9447, dos dias 7 a 10 de setembro de 2012.