Celso Antunes: um homem que nos fez refletir sobre a educação e sobre a vida

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Ana Silvia Bergantini Miguel

Todos nós sabemos que a escola responde hoje por demandas que deixaram de ser atendidas no passado. Somos reféns de nossa própria história. Darcy Ribeiro já dizia com frequência e insistência que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão. Sabem o que isso quer dizer? Apesar de inúmeras pessoas não entenderem as dimensões desse fato: em 1940, praticamente 2/3 da população escolarizável brasileira estava fora da escola; em 1970, 1/3 ainda da população em idade escolar estava fora da escola; há apenas pouco mais de uma década o Brasil conseguiu universalizar o ensino fundamental.
Conclui-se que não temos ainda uma geração de pais de nossos alunos totalmente escolarizada. Essa faceta da nossa triste história sobrecarrega a escola até os dias atuais com demandas que não foram atendidas no passado. Todos esses fatores fazem com que a escola pública hoje assuma vários papéis, pois a escola agora é para todos, indistintamente. Os desafios são inúmeros, desde favorecer o acesso e permanência do aluno na escola até o cumprimento da sua maior missão que é a de garantir o sucesso escolar dos alunos que a frequentam, em outras palavras, não basta estar na escola, é preciso que a escola faça a diferença na vida do aluno. Saber ler e escrever apenas não basta para dar conta das necessidades da atual sociedade em que vivemos.
Pensando em todos esses aspectos e para iniciarmos o ano letivo de 2014, o Professor Celso Antunes esteve em Bebedouro nos dias 06 e 07 de fevereiro para ministrar duas importantes palestras, uma delas tendo como público alvo os profissionais da Educação Infantil e a outra do Ensino Fundamental. Ele que tem o título de doutor e mais de 200 obras publicadas, um currículo invejável, iniciou sua fala, no primeiro dia, com a voz embargada ao dizer sobre o seu grande orgulho em ser PROFESSOR.
Centenas de profissionais da educação, atentamente ouviram suas explanações, sem produzir um ruído sequer, devido à capacidade do palestrante em abordar assuntos tão importantes com tamanha simplicidade, conhecimento e emoção. Celso fala de um lugar comum a todos, fala do universo da sala de aula, com a propriedade de quem efetivamente “pisa nesse chão”. Esse grande homem ao longo de seus 76 anos de pleno vigor e lucidez nos deu ricas lições através de histórias e metáforas que ressaltaram aspectos fundamentais na educação das crianças e jovens. Abordou a importância do papel do professor em desafiar o aluno a pensar, valorizando seu potencial e sua capacidade cognitiva e criativa. Ao falar sobre os avanços da neurociência e da plasticidade do cérebro humano, Celso nos deu ricas lições para ser utilizada dentro e fora da sala de aula. Abordou temas sobre a diversidade, valores, o papel ativo do gestor e do professor, a relação da escola com a família e a comunidade e ressaltou que numa escola todos tem o papel de educador, desde o diretor até o funcionário de apoio.
Esse grande mestre, que nunca se cansa de aprender e de ensinar, ao passar pela nossa querida cidade, conheceu a estátua do Padre José de Anchieta, estátua essa que representa o primeiro professor do Brasil. O mesmo disse que pelos lugares por onde passar vai contar a todos que conheceu uma cidade cujo símbolo era um professor.
Frisou também, que ao longo de nossas vidas estamos em constante processo de aprendizado e durante sua fala, muitas vezes em tom poético ou cômico, levava o público presente do riso às lágrimas.
Celso termina sua brilhante “aula” renovando o sentido da profissão em todos os professores presentes e sendo aplaudido de pé por aqueles que tiveram a oportunidade de o prestigiarem.

(Colaboração de Ana Silvia Bergantini Miguel, Diretora do Departamento Municipal de Educação de Bebedouro, professora e mestre em educação).

Publicado na edição nº 9658, dias 13 e 14 de fevereiro de 2014.