Criança lê jornal?

José Renato Nalini

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Se não lê, deveria! O jornal diário é o repositório das notícias que interessam. Atualiza o leitor. E criança, um ser curioso por excelência, tem muito a aprender lendo jornal.
Já houve tempos em que os grandes jornais mantinham suplementos infantis. Com jogos, diversões, entretenimento sadio e um pouco de leitura. Aos poucos, a crise econômica vai restringindo aquilo que não gera o sustento da publicação. Com isso, perdem as crianças, mas perde mais o Brasil, que deixa de contar com um instrumento aliado para reduzir o analfabetismo galopante.
O livro “Uma Jornada com Propósito”, de Stéphanie Habrich, publicado pela editora Magia de Ler, conta a saga da autora, que criou um jornal para crianças, em circulação por 326 colégios particulares e 12 redes públicas de ensino em todo o Brasil.
O jornal se chama “Joca”, existe desde 2011. Ajuda a despertar no alunado o gosto pela leitura e pela escrita. É uma forma de alfabetização midiática, pouco ainda utilizada nos esquemas oficiais, mas que já foi bem usual nas famílias antigas, que assinavam jornais e partilhavam a leitura deles com as crianças.
Uma criança que se interessa por jornal será um adulto mais atilado, antenado e interessado em saber como andam as coisas em sua cidade e no seu País. Os pais que pedem para os seus filhos lerem alguma notícia no jornal, ou até que tentem resolver uma charada, um jogo simples, ou solucionar um problema elaborado exatamente para o público infanto-juvenil, estarão contribuindo para que o mundo passe a conter com adultos mais conscientes.
Sem prejuízo da utilização cada vez maior da internet, publicações físicas em papel ainda são atraentes. Melhor ainda, quando os alunos se dispuserem a fabricar seu próprio jornal, que pode se limitar à classe, ou ao colégio, ou atingir grupos maiores.
O essencial é fazer com que as letras, a leitura e a escrita não sejam universo ignorado ou estranho para as crianças e adolescentes. Ao contrário, tem de ser um território sedutor, diuturnamente percorrido, para formar gerações aptas ao enfrentamento dos crescentes e graves problemas que acometem o planeta.
Professores, pais e pessoas animadas em transformar o Brasil deveriam se interessar pela criação e leitura de jornais para a infância e juventude. Se esse projeto for levado a sério, em pouco tempo o País será outro. Mais ajustado às nossas aspirações e expectativas.

 

 

 

 

 

 

(Colaboração de José Renato Nalini, Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Presidente da Academia Paulista de Letras – 2019-2020).

 

Publicado na edição nº 10543, de 19 a 23 de dezembro de 2020.