O momento, definitivamente, não é fácil. Milhões de pessoas, não apenas no Brasil, estão passando por um momento crítico de privações e medos involuntários: distanciamento social de pessoas queridas, receio do desemprego, problemas financeiros à espreita, dentre muitas outras questões que, pelo ineditismo da situação, atingiram em cheio o inconsciente popular. Há, contudo, que se ressaltar as oportunidades que afloram em momentos de crise – sim, elas existem.
Períodos de grande progresso e desenvolvimento da sociedade surgiram após tragédias históricas que abalaram a humanidade. Após o levante popular da Revolução Francesa, que culminou no ideal da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a França e a Europa como um todo ingressaram em um período fértil de mudanças políticas e sociais que moldam até os tempos atuais, as relações humanas e a forma como nos organizamos em Estado e sociedade organizada. A barbárie do Século XVIII impedem a barbárie no Século XXI. As grandes guerras do Século XX, afora as tragédias ocorridas e as barbaridades cometidas, foram cruciais para o desenvolvimento de tecnologias que pautam até hoje nosso cotidiano. Como dito no interior: após a tempestade, vem o período da bonança.
Nesse contexto, é importante que tenhamos conosco a certeza de que, após superadas as dolorosas dificuldades pelas quais estamos passando, haverá progresso e desenvolvimento entre nós. A humanidade, após a dor, se reinventa e supera as dificuldades. Mais: as privações da atual situação são uma oportunidade preciosa para refletirmos a respeito da real necessidade da manutenção de determinados hábitos que, outrora, pareciam fundamentais.
Certamente, há milhares de estudiosos, cientistas, filósofos, gestores e pessoas comuns, como eu e você, pensando e trabalhando nesse exato momento na busca de soluções e alternativas para os problemas decorrentes da pandemia da Covid-19. Essa revolução de ideias e atividades criativas serão a base da humanidade na era pós-coronavírus, em que teremos que lidar com novos desafios e hábitos sociais até então desconhecidos.
Afora a questão da saúde, que certamente será impactada pelo progresso advindo da era pandêmica, uma das áreas que deve ser mais impactada pelo “novo normal” da Covid-19 será a das relações de trabalho. Por que preciso sair de casa todos os dias para trabalhar, se consigo concluir meus afazeres profissionais de minha casa? Será que aqueles prazos urgentes, de hoje para hoje, são realmente urgentes? Por que preciso ficar 8 horas por dia preso em um ambiente sob os olhos atentos do chefe, se da sala de minha residência eu consigo trabalhar, produzir e gerar os mesmos benefícios para minha empresa? Para que investir milhares de reais em aluguel de espaço se minha equipe, no conforto de suas casas, consegue trabalhar remotamente e entregar os resultados que eu preciso? São questões que, ao final da atual crise, terão que ser enfrentadas com honestidade e coragem por todos.
Dessa forma, sou um otimista com a crise: acredito que sairemos uma sociedade melhor dela do que quando entramos. Enfrentaremos juntos os desafios e, um dia, contaremos aos nossos netos as dificuldades enfrentadas, o que foi feito para superá-las e as conquistas obtidas após esse turbilhão de sentimentos que atende pelo nome de coronavírus. Até lá, cuide-se, zele pelos seus e pela coletividade e observe o progresso acontecendo na sua janela.
(Colaboração de José Mário Neves David, advogado e administrador de empresas em São Paulo-SP. Contato: [email protected]).
Publicado na edição nº 10484, de 9 a 12 de maio de 2020.