Debate Eleitoral, a troca de ofensas

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

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Os primeiros debates entre os candidatos às eleições municipais tiveram característica desalentadora. Não pela organização, que foi competente, mas pelo ânimo dos concorrentes. Em vez de propostas e promessas de governo, a prioridade foi o ataque ao adversário e a polarização entre Lula e Bolsonaro, que devolve o momento atual ao pleito de 2022 – quando ambos concorreram à presidência da República – ou, possivelmente, remeterá a 2026, quando, se puderem, se enfrentarão novamente.

O lavar de roupas sujas e a agressividade de uns contra os outros é tudo o que o eleitor, que ficou acordado até tarde da noite, não queria ver. Mas foi o espetáculo que os homens e mulheres que querem governar as nossas principais cidades, tiveram a oferecer. Além da troca de farpas e de acusações que ainda poderão terminar na polícia e na Justiça, ocorreu até a agressão do prefeito de Teresina (PI) ao candidato do PSOL. Os adversários fizeram questão de abordar o pior que puderam em relação aos seus concorrentes e – no mais dos momentos – esqueceram-se de falar sobre o que eles próprios pretendem realizar se eleitos. Oxalá seus assessores e marqueteiros os orientem melhor para os próximos embates, lembrando que quem está do outro lado da tela é o eleitor que produzirá os votos das eleições de 6 de outubro. Esqueçam, por favor, senhores candidatos e candidatas, a perna torta, o olho-de-vidro, a voz fanha e as demais dificuldades do adversário e usem o valioso tempo de televisão para tentar convencer o eleitor a dar-lhe o voto.

Lamentavelmente, desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff (2016), o ambiente político-eleitoral brasileiro tornou-se inóspito. Os seguidores da ex-presidente insistiram por muito tempo que ela teria sofrido um “golpe”, quando na verdade, o processo seguiu os trâmites legais. O período em que Lula esteve recolhido em Curitiba também serviu para polarizar os ânimos e gerar uma série de narrativas. Do outro lado, a campanha ácida de Bolsonaro também criou narrativa e desavenças à direita. É o ambiente que temos hoje e, muito provavelmente, presidirá as eleições municipais, cujos participantes deveriam estar mais preocupados com os problemas de suas próprias cidades e não com a temática nacional.

Embora direita e esquerda indiquem a orientação dos políticos, somos levados, cada dia mais, a crer que nada representam. Pelo contrário, quando as teses se radicalizam, em vez de ajudar, os extremismos servem apenas para confundir a cabeça do eleitor. Reconheçamos que o ambiente ora reinante é decorrência das divergências Lula-Bolsonaro e do proselitismo que ambos promovem com o objetivo de prejudicar (e se possível alijar) o adversário de futuras disputas.

Queremos crer que o ambiente hostil exibido pelos participantes dos debates é algo restrito às 133 localidades que possuem mais de 200 mil eleitores e, por isso, terão segundo turno na eleição de prefeito, a ser realizado em 27 de outubro. O restante dos 6.658 municípios brasileiros que realizarão eleições em 6 de outubro certamente têm outro tipo de encaminhamento. Primeiro porque os figurões da política nacional e estadual dificilmente comparecerão para ajudar os candidatos locais dos seus partidos. E o próprio candidato deve saber que para conquistar o voto tem de apresentar propostas que seduzam o eleitor. Quem quiser ganhar a eleição, tem de ser claro em suas propostas de governo. Além de fazer-se entender pelo eleitorado, convencê-lo dos seus propósitos e de que eles são bons para a cidade e para o povo. Lula, Bolsonaro, governador, senador e deputado são cartas fora do baralho.

Sabe-se tradicionalmente, no meio político, que o debatedor que não tem propostas a apresentar costuma acusar (ainda que injustamente) seus adversários para que eles não consigam apresentar os seus projetos, pois terá de utilizar o tempo na defesa do ataque. Numa eleição de prefeito, o candidato deve apresentar ideias que melhorem a vida do povo do seu município. Não precisa falar pelo Estado, pois naquele nível há o governador e nem pelo País porque essa é obrigação do presidente da República. Aguardemos que, nos próximos debates, os candidatos estejam mais conscientizados e, em vez do mau-humor e das grosserias, digam ao povo o que pretendem executar se forem honrados com o voto. Todo o resto é mera estupidez…

(Colaboração do Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Aspomil – Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo, [email protected]).

Publicado na edição 10.866, quarta, quinta e sexta-feira, 21, 22 e23 de agosto de 2024 – Ano 100