
Marcelo Bosch Benetti dos Santos
Acontece em nossa cidade a 24ª Semana de Prevenção às Deficiências, promovida pelo Conselho Municipal para Assuntos da Pessoa com Deficiência de Bebedouro, iniciada na última sexta-feira (21/08/2015) e que se encerra na sexta (28/08/2015). A Semana, além de contar com diversos parceiros, também recebe o apoio da Secretaria Municipal de Educação e da Coordenadoria Executiva da Acessibilidade de Bebedouro.
Estar em sua 24ª edição não é algo de menor importância. Representa anos de muita luta de uma parcela da população envolvida com a causa da pessoa com deficiência (PcD). Além das próprias pessoas com deficiência e seus familiares, participam dessa causa profissionais das áreas da saúde e da educação, setores públicos e privados da sociedade, assim como ONGs e instituições que atendem pessoas com deficiências específicas e múltiplas.
Mas afinal, qual é a “causa” da pessoa com deficiência? O que significa, aqui, falar em “causa”? Significa falar em inclusão social. Ou seja, o direito destas pessoas em ter acesso às conquistas socialmente construídas e historicamente acumuladas pela humanidade. Significa ter acesso à informação, à comunicação, à escolarização, ao trabalho, aos meios de transporte, aos espaços públicos e privados (praças, estádios, teatros, cinemas, restaurantes, lojas, clínicas, hospitais, escolas) – e, portanto, condições próprias e ambientais de mobilidade e acessibilidade.
Neste caminho, podemos mencionar dois combustíveis que propulsionam o processo de inclusão da PcD – inclusão esta que passou a ser de direito, garantida por lei. Esses combustíveis, longe de serem os únicos nesse processo, mas fundamentais, consistem em: (1) o desejo de pertencimento e (2) a empatia.
É muito doloroso sentir-se excluído de alguma coisa e, portanto, diminuído ou não reconhecido em suas capacidades e potencialidades. O ser humano tem uma demanda de amor e de reconhecimento que lhe é básica. Não ser reconhecido e amado o faz sofrer.
Algumas das inúmeras situações desse sofrimento podem ocorrer da seguinte forma: ser tratado pelas pessoas com discriminação e preconceito, devido à cor de pele, etnia, religião ou condição socioeconômica; não ter as mesmas notas altas dos colegas de sala de aula; não ser escolhido para o time de futebol do clube ou da escola; não receber os cumprimentos na data de aniversário; não ser convidado para uma festa; não ter o celular de última geração ou a roupa da moda.
E ainda é válido lembrar: a inclusão social que tem como combustível o desejo de pertencimento do excluído não implica na anulação de sua subjetividade e singularidade. Se isso ocorre, o combustível está adulterado.
O segundo combustível, que combinado com o anterior gera inclusão, é a empatia. A empatia muitas vezes é descrita como a capacidade de “colocar-se no lugar do outro”; de fato. Entretanto, o que muitos esquecem, ou não são estimulados a fazer, é que “colocar-se no lugar do outro” implica ser afetado por aquilo que este outro experiencia, indo além do imaginar-se sob as mesmas circunstâncias. É sentir, em alguma medida, o mal-estar e o sofrimento da outra pessoa, permitindo ecoar em si as emoções que ela evoca.
Desse modo, a empatia é o que irá garantir o verdadeiro acolhimento do sofrimento e do desejo daquele com quem o indivíduo está se relacionando. A consequência mais imediata desta atitude empática será a sensação de alívio de quem sofre ou de quem direciona um pedido, por perceber que de fato está sendo ouvido, compreendido e reconhecido.
Portanto, a vontade de pertencer e a empatia, quando combinadas, geram mudança e inclusão social. O primeiro, em geral, facilmente se encontra do lado do excluído, e em grandes quantidades; o segundo muitas vezes falta ou é insuficiente do lado de quem exclui.
Garantir a inclusão social de maneira ampla é um processo ainda em curso. O caminho parece promissor. Entretanto, é preciso que haja mudanças na maneira de perceber de muitos em relação àqueles que apresentam alguma deficiência. Para isso, além do enfrentamento sistemático dos estigmas sociais que marginalizam diariamente estas pessoas, é preciso criar um sistema educacional e uma cultura familiar que valorize e favoreça o desenvolvimento da inteligência emocional de nossas crianças. Quem sabe assim a empatia venha a sobrar e, consequentemente, a barreira da exclusão acabe em ruínas.
(Colaboração de Marcelo Bosch Benetti dos Santos, Psicólogo, especialista em Psicologia Clínica, mestrando em Psicologia Clínica – PUC-SP).
Publicado na edição nº 9883, dos dias 27 e 28 de agosto de 2015.