Com o final das campanhas eleitorais, gostaria de compartilhar com vocês algumas reflexões.
As disputas políticas mudaram muito nos últimos anos. Comecei minha carreira com campanhas que duravam 3 meses. Era tudo muito diferente. A sola de sapato, o “tete a tete”, o “olho no olho”, as visitas nas casas eram o grande diferencial. As pessoas tinham o contato direto com o candidato, especialmente nas cidades de pequeno e médio porte. Os comícios eram uma verdadeira festa da democracia! Os horários eleitorais de rádio/TV e debates eram extremamente importantes e mudavam o rumo de muitas eleições.
Com o advento da internet, muita coisa mudou, inclusive a forma de conquistar o voto. As campanhas digitais ganharam força. Lógico que várias mudanças na lei eleitoral foram fundamentais. Diminuição do tempo de campanha, proibição de distribuição de brindes, camisetas, bonés, chaveiros, o fim dos showmícios, o uso racional dos espaços públicos para propaganda eleitoral, especialmente ruas, avenidas, rotatórias, canteiros e praças. Tudo muito importante para diminuir o custo de campanha e dar mais equilíbrio entre os concorrentes. No entanto, esta eleição teve algumas características que marcaram demais as disputas.
Que as redes sociais passaram a ser o grande instrumento e estratégia de campanha, ninguém mais duvida e isto já vinha se desenhando e crescendo nas últimas eleições e deve se consolidar cada vez mais. Agora, o que ficou evidente neste pleito foi que o ataque pessoal se sobrepôs às propostas! Vamos ser sinceros, a maioria esmagadora das campanhas municipais tinha foco na destruição da reputação do adversário e não no debate das melhores propostas. Esta inversão de valores foi a marca desta eleição.
Focar na vida pessoal, ofender o candidato, a família do candidato, destacar suas características negativas, destilar ódio, atacar apoiadores (sei bem o que é isso), espalhar boatos e fake News foram a tônica de boa parte das campanhas, lamentavelmente. Os debates perderam totalmente sua essência e importância, se transformando num verdadeiro ringue. As propostas para o futuro das cidades ficaram em segundo plano, e pior, obrigando o candidato de perfil diferenciado a conviver com o risco de “colar” tais ataques e perder a eleição se não entrasse na mesma paranoia do adversário. Desgastante!
Resultado, o eleitor cada vez mais cansado e sem interesse e até vontade de votar. Olhem os resultados oficiais. O número de abstenção, votos brancos e nulos, recordistas nestas eleições. Na realidade, não votar também não faria diferença para muitos, até por conta do valor da multa e das implicações da ausência. Segundo o Código Eleitoral ao deixar de votar e não apresentar justificativa perante o juiz eleitoral, a pessoa deve pagar, este ano, o valor de R$ 3,51 por cada turno de eleição. Isto é um desestímulo ao voto! E os números estão aí.
Necessário uma grande conscientização sobre a importância do voto neste país. Sempre acreditei que o eleitor precisa ouvir e discutir propostas e fiz isso em todas as campanhas que disputei e participei. Não é possível que eleições sejam decididas na destruição da imagem e reputação do candidato. O eleitor precisa se vacinar contra isso, a legislação precisa ser mais rigorosa e a justiça eleitoral mais punitiva.
Pode até parecer romântico e antiquado demais, mas política e campanha se fazem conquistando o eleitor com bons projetos e idéias e não transformando a eleição num “circo de horrores”, de ataques, ofensas e destruição de reputações.
Fernando Galvão, advogado, professor, foi prefeito de Bebedouro/SP e presidente do Codevar, é suplente de deputado estadual por São Paulo.
Instagram: @fernando_galvao_moura / Facebook: @fgalvaomour
Publicado na edição 10.885, de sábado a terça-feira, 2 a 5 de novembro de 2024 – Ano 100