Energia limpa, uma questão de educação

Wagner Zaparoli

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Muitos dos países da Europa Ocidental dependem do gás russo para fazer funcionar suas indústrias, seu comércio e suas casas. Sem ele esses países apresentam uma sensível dificuldade para realizar tarefas aparentemente insignificantes, como secar roupas, por exemplo. Com a guerra na Ucrânia seguindo em curso, o canal de escoação do gás se viu diminuído ou até fechado, seja por conta do boicote desses países à Rússia ou por conta das estratégias russas de tentar forçar um desgaste do ocidente.

O fato é que muitos países já pensam em alternativas ao gás russo. Fazer de suas matrizes energéticas um completo refém nunca foi um bom negócio. E nesse caso vale até apelar para os combustíveis fósseis ou para a energia nuclear.

Focando um pouco na jornada tupiniquim, o Brasil, apesar de alcançar a autossuficiência na produção do petróleo, depende do gás natural boliviano para gerar energia industrial e automotiva, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. Qualquer espirro na Bolívia, como ocorreu em 2006, com a nacionalização do gás pelo governo boliviano, gera preocupações, para não dizer impactos diretos na economia nacional.

Só para lembrarmos, na longínqua década de 1970, passamos por duas graves crises do petróleo, das quais obtivemos péssimos resultados, como a aceleração do processo inflacionário, a redução das taxas de crescimento do PIB, desemprego e desequilíbrio das contas públicas. Já em 2001, o país enfrentou uma crise de desabastecimento de energia que evidenciou explicitamente a fragilidade do setor, punindo ainda mais uma população que há muito sentia a falta de infraestrutura.

As fontes renováveis

Fonte de energia renovável é aquela gerada pela natureza que apesar de seu uso extensivo se mantém relativamente intacta por milhares ou até milhões de anos, como a energia solar, eólica e gravitacional. Além disso, têm a capacidade de não poluir o planeta por esse uso extensivo.

Em rápido balanço energético nacional observamos um fato positivo que mostra que pouco mais de 40% da nossa matriz energética está assentada sobre fontes renováveis. Positivo porque esse número em nível mundial não ultrapassa 14%.

O índice elevado de fontes renováveis de nossa matriz se dá devido principalmente à instalação de usinas hidrelétricas pelo país, o que não deixa de ser alvo de críticas de pesquisadores e ambientalistas devido ao grande impacto ambiental (extensas áreas alagadas e perda da biodiversidade local), bem como do impacto social, já que o país contabiliza quase um milhão de pessoas expulsas de suas terras.

O fato é que não existe geração de energia com impacto ambiental zero. Mas poderá ser minimizado a partir da conscientização da população no intuito de reduzir a demanda por energia e a partir da diversificação equilibrada da matriz energética brasileira.

As fontes alternativas

O governo brasileiro tem planos de construir novas usinas hidrelétricas, onerando ainda mais o custo ambiental e social. Pesquisas indicam que se ao invés disso ele explorasse o potencial das usinas já existentes, haveria um aumento de 40% da capacidade de geração de energia. Usinas com a de Porto Primavera e Itaipu, por exemplo, têm potencial para isso. Outro caminho seria a construção de micro centrais hidrelétricas que possam atender um conjunto de 50 a 60 famílias com impacto ambiental bem reduzido. Algumas já instaladas no Pará têm beneficiado populações que jamais tinham tido acesso à energia elétrica.

Ampliando o horizonte das fontes renováveis, o país ainda pode optar pela energia solar, principalmente nas regiões Norte e Nordeste onde o Sol é figura constante. Embora haja pouco investimento em pesquisas tecnológicas nessa área, não há como descartar esse tipo de fonte, como também não se pode descartar a energia eólica (de grande potencial no Rio Grande do Norte), a energia proveniente da biomassa e a energia proveniente das ondas do mar.

O desenvolvimento sustentável deve conceber o planejamento familiar, a atualização dos processos agrícolas e industriais e o combate ao corporativismo sobre o uso indiscriminado e irreversível das fontes de energia não renováveis. É imperativo que a opinião pública seja informada, mas principalmente educada a ter consciência das alternativas energéticas limpas e disponíveis. Deve participar das decisões e escolhas das fontes mais adequadas. Não é possível que um país como o Brasil, com essa extensão territorial e riquezas naturais, ainda precise conviver com uma dependência tão grande das fontes de energia não renováveis. Que a educação nos ilumine.

E para quem gosta ou apoia o tema, dê uma passadinha de olhos neste vídeo. https://www.youtube.com/watch?v=US2kDBH64gU

(Colaboração de Wagner Zaparoli, doutor em ciências pela USP, professor universitário e consultor em tecnologia da informação).

Publicado na edição 10.715, de sábado a terça-feira, 19 a 22 de novembro de 2022.