Espionagem e o factóide

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Antônio Carlos Álvares da Silva

Uma palavra, que vem sendo usada com frequência pela mídia e por políticos é factóide. No meu dicionário, que é antigo, ela não está presente. Mas, pelo sentido, que tem sido usada, deduzo que significa um fato apresentado, para servir de lema e ter repercussão política e jornalística, independentemente de maior análise. Isto é, um fato para marcar uma posição pela força de ser repetido.
Como hoje em dia todos vivem com pressa, o factoide é uma ideia pronta, feita para dispensar debate e troca de argumentos.
Essas considerações me vieram à mente, por uma notícia saída na mídia há uns dois meses atrás. Um funcionário da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos – NSA – delatou, que sua agência monitorava todas as transmissões via internet, telefone e celular, inclusive telefones de políticos e empresas. Citou especificamente, entre outros, o telefone da presidente Dilma e da Petrobrás.
Nossa presidente chamou esse monitoramento de espionagem e denunciou em pomposo pronunciamento na ONU, depois de cancelar sua visita oficial aos Estados Unidos.
Nessa ocasião, escrevi um artigo, minimizando a importância do fato. Disse, que todos os países tem agências de informações e a busca de segredos é comum, mesmo se conseguida por meios ilegais.Agora, em outro pronunciamento conjunto, os países da União Europeia, fizeram coro contra essa espionagem, protestaram e pediram explicações ao presidente Obama.
Em razão disso, alguns de meus leitores criticaram meu artigo, alegando que toda Europa tinha a mesma posição brasileira.
Meus amigos agradeço a crítica, porém mantenho minha posição anterior. Também os europeus transformaram o fato em factóide, para dar satisfação ao seu público e seus eleitores.
Insisto, que está faltando a informação principal: O que foi espionado de Dilma e dos políticos europeus? Todos reclamam, que essa espionagem tira a privacidade de todos cidadãos do mundo, omitindo um detalhe: A internet, a telefonia e satélites despejam milhões de conversas e opiniões a cada minuto de funcionamento. Ninguém consegue analisar essa avalanche de informações contínuas.
Daí, ficam concentrados em poucos focos escolhidos. Então, cabe a esses a função de defender-se.
A propósito: Em 2010, a ABIN, Agência Brasileira de Informações, alertou por escrito o governo federal do Brasil, que ele poderia ser monitorado pela agência americana, já que lei do Congresso Americano a tinha autorizado.
Aliás, a prova maior, que o protesto da União Europeia é para inglês ver, veio dela mesma.
O presidente do Parlamento Europeu propôs, que todas as tratativas entre os Estados Unidos e a União Europeia fossem interrompidas, enquanto não houvesse uma explicação satisfatória sobre a dita espionagem. Como essas tratativas de livre comércio são mais importantes, a proposta foi amplamente recusada.
Protesto, protesto, negócios a parte! Aliás, não estou sozinho em minha opinião. No sábado passado, o colunista Gilles Lapouge, em artigo no Estadão, escreveu: Nos corredores da União Europeia os ânimos se acalmaram.
Sobretudo, os embaixadores, estão bem colocados, para saber, que a coleta de informações é uma atividade proibida, vergonhosa, mas universal, constante e cada vez mais intensa. Mas, é preciso fazer alguma coisa, para que a imprensa, possa falar nisso.
Então, vamos gesticular em coro, meus amigos. “E não foi só ele”. Em artigo publicado no jornal Le Monde, Jacques Villain, escreveu: “O que me intriga é o profundo espanto dos dirigentes europeus. De duas uma: Ou eles não analisaram a história das relações entre EUA e os países europeus nos últimos 60 anos, ou zombam dos seus cidadãos, ao exibirem uma falsa indignação”.
Assim, meu caro eleitor, eu não estou sozinho na opinião do meu artigo. Estou na companhia de dois grandes colunistas franceses. Como dizia a molecada de antigamente: Melhor que isso, só dois isso!

 (Colaboração de Antônio Carlos Álvares da Silva, advogado bebedourense).
Publicado na edição nº 9618, dos dias 2, 3 e 4 de novembro de 2013.