Faça alguma coisaa

José Renato Nalini

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A cada onze dias, o Brasil descarta lixo correspondente à massa física de uma pirâmide egípcia. É um desperdício proporcional à nossa indigência ética. Alguém preocupado com o semelhante e com o futuro não jogaria fora o material valioso que vai ocupar “lixões”, outro atestado de nossa ignorância.

Há quem sustente hoje que o lixo pelo qual as Prefeituras pagam fortunas para as empresas que o recolhem e o destinam deveria ser vendido. Pois quase tudo pode ser reaproveitado. É o que fazem os países civilizados, principalmente na Escandinávia, onde o conceito de “economia circular” gerou a benéfica “logística reversa”.

Ainda nos comportamos como na pré-história: usamos e jogamos fora. Enquanto países educados sabem que o responsável pela fabricação de um produto é também responsável por sua destinação. A economia circular é exatamente fazer voltar à origem o material que já serviu à sua finalidade.

Assim, quem fabrica carros, tem de acompanhar a vida útil do veículo e aproveitar as carcaças, pois outra demonstração de nossa miséria mental é a existência de “desmanches”.

Praticamente tudo pode ser reciclado. No Brasil, apenas 2% do que se produz em resíduos sólidos descartáveis é objeto de reciclagem. Foi o que apuraram Athos Comolatti e outros engenheiros da Poli, a Escola Politécnica da USP, ao criarem o Projeto Recicla. Uma proposta viável, que não precisa de mudança legislativa, mas apenas da vontade política de alguns chefes de Executivo. Procure conhecer o Projeto Recicla, que ainda teria como subproduto a criação de inúmeras novas ocupações e provaria que reciclagem pode ser um bom negócio.

Pois hoje, infelizmente, ela se faz por força da miséria que acomete a maioria dos catadores.

Não por consciência ambiental apurada.

Para que esse vergonhoso percentual de 2% de reciclagem venha a melhorar, é preciso que cada um se preocupe com uma questão de interesse de todos. Até daqueles que ainda não nasceram e que têm direito a viver num planeta acolhedor, como aquele em que viemos à luz. Mas que estamos destruindo com velocidade inimaginável.

O que é que você faz para não tornar o mundo em que vivemos uma grande lata de lixo? Você consome conscientemente? Você é amigo da natureza ou amigo da imundície? Qual a sua contribuição concreta para salvar o mundo?

(Colaboração de José Renato Nalini, Diretor-Geral da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove, advogado, palestrante e autor de “Ética Ambiental”).

Publicado na edição 10.741 de quarta, quinta e sexta-feira, 15, 16 e 17 de março de 2023