Em 2010 a cardiologista Luciana Savoy Fornari, do Instituto do Coração (InCor), empreendeu um estudo para entender melhor a influência dos filhos na saúde dos pais. A pesquisadora e o grupo do InCor utilizaram um programa educacional multidisciplinar como base de coleta e análise de informações que evidenciassem a existência de uma relação positiva.
Precedentes importantes já haviam ocorrido nos Estados Unidos durante a década de 1990. Na ocasião, pesquisadores daquele país empreenderam um programa massivo sobre qualidade de vida, incluindo no currículo escolar disciplinas que descreviam como se alimentar melhor. Ao longo do programa foram perceptivas as mudanças não só no comportamento das crianças, mas principalmente no comportamento da família a qual a criança pertencia.
Aplicando o programa
A cidade de Jundiaí – SP forneceu o público alvo para a realização da pesquisa. Alunos de uma escola particular daquela cidade foram divididos em dois grupos: o de controle e o de intervenção. Aos pais dos alunos do grupo de controle foram entregues folhetos educativos com orientações sobre alimentação saudável, a importância de evitar o tabaco e de realizar atividades físicas.
Já no grupo de intervenção, além dos folhetos entregues aos pais, as crianças assistiram a palestras e realizaram atividades sobre prevenção cardiovascular; nutricionistas ensinaram como seguir uma alimentação saudável na cantina; nas aulas de educação física, fisioterapeutas explicavam por que é importante praticar atividades físicas; e encenações de peças de teatro e um passeio ciclístico em conjunto com os pais fecharam o programa.
Em momento algum as crianças foram estimuladas a cobrarem qualquer mudança de atitude de seus pais. A eles, os pais, foi dito que o estudo iria avaliar os fatores de riscos cardiovasculares na família e assim seriam necessários os dados clínicos de todos (exames laboratoriais, questionário nutricional, medidas corpóreas, etc). Desconheciam que eles próprios seriam o foco do estudo.
Resultados promissores
Findado o período de realização do programa, o grupo de pesquisadores analisou o conjunto de dados coletados, chegando à conclusão de que 91% dos pais do grupo de intervenção deixaram o estágio de alto risco com relação às doenças cardiovasculares, enquanto a diminuição no grupo de controle não ultrapassou à casa dos 13%. Além disso, a redução do risco médio de sofrer problemas cardiovasculares diminuiu de 3,53% para 2,8% no primeiro grupo; já no segundo, o índice permaneceu nos 4,5%.
O interessante da história foi a participação ativa das crianças preparadas (grupo de intervenção) no cotidiano das famílias: elas falavam aos pais qual seria a melhor refeição, o que deveriam comprar no supermercado, a importância de se minimizar a ingestão de massas durante a semana, bem como a prática desportiva. Quando viam alguém fumando, comentavam sobre os males do tabaco para o organismo. Tudo isso devido aos estímulos recebidos na escola.
Para um futuro melhor
Já não bastasse a epidemia de obesidade que o Brasil vem enfrentando devido principalmente aos maus hábitos alimentares e à falta de práticas esportivas, recentemente foi noticiado que começamos a enfrentar também uma epidemia de câncer, análogo ao que já ocorre em países desenvolvidos como os EUA.
Em poucos anos o país vai se ver em grandes apuros para sustentar financeiramente a saúde da população diante dessas e outras epidemias que já enfrentamos. Não há dúvidas, e essa pesquisa corrobora com o fato, de que a prevenção ainda é o melhor remédio para o combate às doenças.
E nada é mais precioso do que educar nossas crianças para que possam diferenciar os hábitos saudáveis daqueles perniciosos, sustentados por milionárias campanhas de publicidade que tendem a envenenar mente e corpo da população desavisada.
Cultivemos então a curiosidade das crianças educando-as para um futuro melhor.
(Colaboração de Wagner Zaparoli, natural de Bebedouro, doutor em Ciências pela USP, mestre em Ciência da Computação, professor de lógica e consultor. E-mail: [email protected]).
Publicado na edição nº 9550 dos dias 23 e 24 de maio de 2013.