“… Eu quando olho nos olhos sei quando uma pessoa está por dentro ou está por fora, quem está por fora não segura um olhar, que demora de dentro de meu centro este poema me olha” – Paulo Leminski.
Julio Cesar Sampaio
Ao nosso modo de pensar, vejo que a antropologia filosófica surgira no dia em que o homem se tornou (ou ainda tornar-se-á) um ser autossuficiente (self-conscious, selbstbewusst). Tal filosofia engendrou no homem uma ‘intelectualização’. O homem, é verdade, foi sempre um ser intelectual; mas, em tempos remotíssimos, a ‘sua’ inteligência se achava ainda em estado potencial, dormente, latente, assim como a futura planta existe, em estado embrionário, na semente. O homem tornara-se hodierno numa “visão” filosófico-antropológica quando nele despertou a inteligência dormente, embrionária. Para um homem “simples”, sem cultura filosófica vigente, real é sinônimo, ou até homônimo, de concreto, individual, material, físico – ao passo que o abstrato, o imaterial, o metafísico equivale, para ele, a irreal, fictício, quimérico. Segundo Haeckel, “a ontogênese é a palingênese da filogênese” – ou seja, sem palavras gregas, a história do indivíduo é a recapitulação da história da raça – temos na vida individual de cada homem a miniatura da epopeia multimilenar do gênero humano: a criança não é intelectualizada, mas intelectualizável – ao passo que o filhote de qualquer irracional não é intelectualizado nem intelectualizável. Aquela, embora não possua o ato, possui a potência para o dom do intelecto. Em suma, com efeito, ser inteligente é ser filósofo numa visão antropológica, atualmente. Não existe um só homem que não seja pelo menos potencialmente filosófico. A antropologia filosófica não é, pois, como se vê uma ciência particular, como, por exemplo, a física e a química; mas é ciência universal, a ciência especificamente humana, a atividade humana por excelência. Ainda que necessitemos da ontologia e a metafísica para corroborar um elementar exemplo, assim o faremos: Ser de absoluta inconsciência é um ser nulo, irreal; Ser de consciência parcial é um ser finito. Ser de consciência total é um ser infinito, isto é, a Antropologia filosófica (ciência do espírito) propõe eduzir do homem seu voluntário e inconsequente “esquecimento” (anónymos) dos tempos vigentes… Apenas EU (…). Não obstante, quando colocamos a educação como fator comportamental (psicológico), podemos fomentar, de forma coesa e veemente que o sistema educacional dá uma instrução necessária relacionada com a cultura, sociedade e as implicações do tempo, mas a individualidade (eu) deve ser trabalhada com cautela e perspicácia, pois o educando irá levar para a sua vida futura será sua individualidade inerente a sua sociabilidade. A maior dificuldade que se tem percebido na educação atualmente é o fator comportamental e a individualidade de cada aluno que deve ser trabalhada com respeito e ponderação, pois problema na educação sempre houve todos correlacionados com estas duas vertentes tão precípuas. O aluno é uma “tábula rasa” (J. Locke); está prestes a receber as informações, porém, deve ser levado em conta o “eu” de cada um. Fazendo isso, muito será solucionado, pois a melhor maneira para um professor agir diante de tal questão é, tão somente, observarmos e fomentarmos por uma autoavaliação em relação aos anseios dos mesmos; aplicarem-se dinâmicas de grupo visando à autoavaliação, onde ele mesmo saberá apontar as soluções que tanto almeja. Não obstante, claro, tudo mediante um profissional qualificado para observar, otimizar e oportunizar tais dinâmicas. Em suma, pela valorização do potencial humano, ou seja, o ser humano, nos dias atuais, passa a ser considerado como um todo (aspecto psicológico) mediante a natureza física, intelectual, emocional e espiritual, valorizando-o pela perspectiva de integralidade, semelhante a um gerador de recursos… Eis o caminho para a precípua educação de aprendizagem e, por conseguinte, do EU de cada ser!
(Colaboração de Julio Cesar Sampaio, Licenciado em Filosofia com pós-graduação no ensino de filosofia).
Publicado na edição nº 9748, dos dias 20, 21 e 22 de setembro de 2014.