Idas e vindas de ‘Segundo Sol’

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Encaminhando-se para o terceiro mês no ar, ‘Segundo Sol’, novela das nove da Globo, escrita por João Emanuel Carneiro apresenta, até o momento, tem números empatados tecnicamente com as antecessoras ‘O Outro Lado do Paraíso’, de Walcyr Carrasco e ‘A Força do Querer’, de Glória Perez. No acumulado dos 44 primeiros capítulos, a trama de Carneiro acumula 31,6 pontos, ante 32,1 da novela de Carrasco e 31,5 da história contada por Glória Perez. Os dados são da Kantar Ibope, referentes à grande São Paulo e cada ponto equivale a 71,85 mil domicilios com televisores ligados.
Com audiência esperada, pode-se dizer que a trama caiu no gosto do público e tem tudo para melhorar daqui para frente. Entrando mais detalhadamente na história, é possível apontar os altos e baixos da trama. Até porque, não é pelo fato de estar bem na audiência, ter bom elenco e produção de qualidade, que a novela não possui pontos negativos ou pelo menos incompreensíveis.
A cena mais recente que se enquadra perfeitamente no quesito ‘incompreensível’ foi o casamento de Roberval e Cacau, personagens de Fabrício Boliveira e Fabíola Nascimento. A sequência mostrou a humilhação sofrida pela personagem no altar, após o noivo descobrir que estava sendo traído, inclusive pela mesma pessoa, anos depois. Humilhação feita, com direito a xingamentos e ofensas completamente desnecessárias, a cena corta para outras duas sequências e, logo depois, o público é exposto à continuação do barraco. Roberval rasga o vestido de noiva de Cacau, e a deixa praticamente nua na igreja.
O mais incompreensível é que a plateia assistia impassível. Todos os personagens envolvidos na cena ficaram observando a afronta pela qual passava a noiva. O único que tentava reagir era Ícaro, personagem de Chay Suede, sobrinho de Cacau, mas impedido pelos seguranças de Roberval de defender a tia. Fora isso, ninguém mais moveu um passo para ajudá-la. Será que tudo isso é necessário? É, de fato, essencial colocar no ar, às nove da noite, cena tão pesada, e pior ainda, sem alguém para concluir tudo o que aconteceu. Nenhum personagem se atreveu a entrar na cena, falar umas verdades ao noivo, ou pelo menos ajudar a noiva devastada naquele momento?
Traições à parte, sem entrar no mérito do acontecido, será esta a única maneira de retratar o que deve acontecer mundo afora? Não seria necessário, talvez, uma cena dialogada entre os envolvidos? Talvez seja por isso que Manoel Carlos faz tanta falta nas novelas. É claro que as novelas do autor são consagradas por inúmeras cenas de barracos e conflitos, porém, sempre acompanhadas de diálogos inteligentes na cena seguinte, ou até mesmo, na anterior. A cena do casamento de Cacau e Roberval, parece ter sido criada apenas para gerar ainda mais conflito à trama e, claro, para alavancar a audiência do horário, o que prova o gosto do telespectador por cenas como esta.
No entanto, apesar de ‘presentear’ o público com sequências assim, a trama de Carneiro traz coisas boas também. A produção da cena, inclusive, foi perfeita. A direção de Dênnis Carvalho e Maria de Médicis está impecável em todas as sequências deste projeto, principalmente nas cenas mais dramáticas. Outra coisa boa da narrativa é a maneira encontrada por Carneiro para conduzir a história. Não existe, em ‘Segundo Sol’, a famosa ‘barriga de novela’, aquele momento onde se passam vários capítulos sem nada acontecer. Só na semana de 23 a 28 de julho, os telespectadores viram Dodô (José de Abreu) revelar à família que teve um filho com Gorete (Thalita Carauta), namorada de seu filho Clóvis (Luis Lobianco) e o reencontro de Luzia (Giovanna Antonelli) e Beto (Emílio Dantas), além de ver o corrupto Severo (Odilon Wagner) sair da prisão e expulsar a neta Rochelle de casa.
‘Segundo Sol’, apesar de classificar-se no gênero novela por possuir mais de 100 capítulos, traz características de série, o que é muito bom. Os conflitos são lançados e logo resolvidos pelo autor. O público não espera quase cem capítulos para descobrir segredos ou para ver o embate entre mocinha e vilã, cena que já aconteceu.
Entre altos e baixos, pode-se concluir que ‘Segundo Sol’ é uma novela boa de ser acompanhada. A agilidade da narrativa atrai o público, apesar das cenas pesadas e densas. Vale lembrar que toda essa agilidade não é em vão. Carneiro sofreu em 2015, quando escreveu ‘A Regra do Jogo’, no embate com a RecordTV, que exibia ‘Os Dez Mandamentos’, e por isso, fez esta estratégia com ‘Segundo Sol’, tentando evitar que parte do público migre para a RecordTV, já que a emissora estreou mais uma novela bíblica. Desta vez, ‘Jesus’, começou com elenco grande, produção caprichada e audiência considerada satisfatória pela emissora, 13,4 pontos.

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Leia mais na edição nº 10294, de 4, 5 e 6 de agosto de 2018.