Licitação pode ter sido direcionada à Sonda

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A Gazeta constatou essa semana que somente a empresa Sonda Publicidade Propaganda e Marketing participou do Pregão Presencial 16/2012, realizado pela prefeitura, em abril deste ano, e receberá R$ 360 mil pela realização de uma Pesquisa de Opinião entre os servidores da prefeitura e, entre outros serviços, para criar uma identidade visual (campanha gráfica completa) para a prefeitura. De acordo com o diretor do Depto. de Licitação da prefeitura, Antônio José da Silva, a empresa teria cobrado R$ 368 mil pelos trabalhos, que durarão cerca de quatro meses, mas abaixou o preço após negociações.

Endereço - Na rua Domingos de Morais, 1460, sala 3, deveria estar instalada a empresa Cebram.

Conforme publicado pela Gazeta na semana passada, a Sonda está sediada em Barretos, no mesmo endereço do jornal “Atitude Regional”, distribuído gratuitamente em Bebedouro a cada quinze dias, enaltecendo o trabalho do prefeito Italiano (PTB), embora neste endereço, ninguém tenha atendido a reportagem da Gazeta, em horário comercial, nem ao interfone, nem ao telefone. O proprietário do jornal é Aroldo Fernandes da Silva, que recebeu R$ 7,9 mil da prefeitura em março deste ano, e já foi sócio da Sonda até janeiro de 2012. Antes do Pregão vencido pela Sonda, a prefeitura fez uma pré-cotação de valores cobrados por empresas, com o objetivo de obter uma média dos preços de mercado. Para isso, convidou três empresas que, estranhamente, não voltaram para participar do Pregão. São elas: Cebram (Centro Brasileiro de Apoio ao Município), de São Paulo, que cobrou R$ 380 mil, Two Up Merhandising and Music, de Barueri, que propôs o valor de R$ 396,2 mil, e Vivacidade Comunicações, também de Barueri, cujo valor cobrado foi de R$ 420 mil. O convite não foi feito pelo Depto. de Licitação, e sim pelos setores interessados no serviço, neste caso teria sido o setor de Recursos Humanos. “A gente só faz a licitação depois que já está pronta a documentação. Chega um oficio para mim, solicitando a contratação de tal serviço, é discriminado no ofício, vem as cotações para a gente poder trabalhar, mas os critérios para escolha das empresas eu não sei. É de acordo com cada departamento, nesse caso foi o RH que fez a requisição, o ofício e os orçamentos, protocolou e chegou aqui para mim, montei o processo e publiquei”, explica o diretor do Depto. de Licitação.

Para saber os motivos que fizeram as empresas desistirem de participar do Pregão, a Gazeta entrou em contato com cada uma delas. Na rua Domingos de Morais, 1460, sala 3, no bairro Vila Mariana, em São Paulo, onde deveria estar localizado o Cebram, funciona uma casa de prostituição, segundo informações de comerciantes vizinhos que trabalham na mesma rua. O endereço consta na documentação enviada ao Depto. de Licitação. Na internet, o local é classificado como Dalveni – Diversões. No prédio ao lado, nº 1456, também funciona um prostíbulo, e na internet está classificado como Maria Célia Furtado – Diversões. As surpresas não param por aí. Ao ligar para o telefone da empresa, cujo número é um celular, a reportagem da Gazeta foi atendida por Aroldo Fernandes da Silva, novamente, o mesmo ex-sócio da Sonda e hoje proprietário do Atitude Regional. Ele disse que uma pessoa não se interessou pelo Pregão. Essa pessoa seria um rapaz chamado João Francisco. “Eu não tenho contato com o João Francisco. Eu tinha participação nessa empresa (Cebram) muitos anos atrás. Faz bastante tempo que não tenho contato com ele (João Francisco), sei que ele mora em São Paulo, já fomos amigos, depois tivemos algumas diferenças, hoje eu não sei”, argumentou Aroldo Silva. Ele não revelou o porquê de o telefone dele constar na prefeitura como responsável pela empresa Cebram.
A Gazeta não conseguiu falar com Ivanildo Gomes, sócio-administrador da Vivacidade Comunicações, mas entrou em contato com o sócio da Two Up Merchandising and Music, Ronnie Annunciação. Ele afirma que ambas as empresas são parceiras. “O jornal Vivacidade é parceiro nosso, mas não tem nada a ver com a gente, sentamos juntos, mas abrimos mão, a gente iria dividir a equipe. Por exemplo, se eu ganhasse (o Pregão), a gente iria dividir, uma parte deles e uma nossa. Participamos em um primeiro momento, mas achamos por bem, não participar da licitação, ficou inviável financeiramente para a gente fazer um projeto longe”, disse Annunciação. Com uma dívida de cerca de R$ 40 milhões, atestada na última prestação de contas, a prefeitura, por R$ 360 mil, contrata a Sonda de forma duvidosa, para serviços mal explicados, como a criação de uma identidade visual (campanha gráfica completa) para a prefeitura. Contratada em maio, esses trabalhos deverão ter fim em setembro, poucos meses antes de Italiano deixar a administração pública. O que levaria o prefeito a gastar tanto dinheiro, no final do seu mandato, se seu destino a partir de 2013, ainda vai ser decidido pelas urnas? Por quê Italiano está contratando a criação de uma nova identidade visual e imagem institucional, nos últimos meses de administração, quando esse tipo de serviço deveria ter sido feito assim que assumiu a prefeitura? Será essa a identidade visual que ele usará na campanha eleitoral em outubro? São muitas as questões… Ficam as dúvidas.

Feccib 2012
A empresa especializada que será contratada para realização e organização da Feccib 2012 (Feira Citrícola, Comercial e Industrial de Bebedouro), entre os dias 18 e 22 de julho desta ano, poderá ser a RCF – Construções e Serviços Ltda. – EPP. Ela e mais quatro empresas haviam participado da licitação em abril, mas todas deixaram de atender a algumas exigências e, por isso, tiveram oito dias para apresentar novas documentações e cinco dias para interpor recursos na prefeitura, o que não foi feito. Apenas a RCF entrou com recurso. “A comissão de licitações se reuniu na terça-feira (29), e acertou que terá que ficar mesmo com a empresa que entrou com recurso. Analisamos os documentos, e no caso dela, o que ocorre é que não tem necessidade de ter o Crea, ela não vai executar o serviço, será responsável pela festa, então vai organizar. Quem vai montar o palco, por exemplo, pode ser uma empresa contratada por ela, e essa empresa é que tem que ter um engenheiro responsável. Isso tem fundamento, aceitamos o recurso dela e acatamos. Agora publica, manda para as empresas que estavam participando informando que acatamos o recurso dela, tem que dar os cinco dias para ver se as empresas vão contestar ou não. Aí sim, podemos abrir os envelopes (com os valores)”, explica o diretor do Depto. de Licitação. O valor médio que poderá ser pago pela prefeitura para a realização da Feccib 2012 gira em torno de R$ 450 mil.

 
Publicado na edição n° 9408 dos dias 2, 3 e 4 de junho de 2012.