‘Mais Médicos’ e mais liberdade para Cuba

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Profissionais contratados na ilha caribenha aproveitam a oportunidade para escapar de um projeto que caducou.

Quando o jovem advogado cubano Fidel Castro liderou ao lado do médico argentino Ernesto Che Guevara, guerrilheiros que derrubaram o corrupto governo de Fulgênio Batista, em 1º de janeiro de 1959, todos pensaram em uma nova era para o sofrido e explorado povo de Cuba.
Passados 55 anos, o jovem líder tornou-se ditador aposentado, deixando o irmão no poder e poucos motivos para a juventude cubana permanecer na única ilha comunista do continente americano.
Há de se contabilizar a culpa da mão pesada dos Estados Unidos, que motivado pela Guerra Fria, e o pavor de ver espalhada na América Central e Latina, a influência da então poderosa União Soviética, tentou invadir Cuba, na fracassada invasão da Baia dos Porcos, e ainda impôs-lhe, um sufocante boicote. Até o arqui-inimigo Irã está prestes a ver derrubadas as sanções americanas, mas para os cubanos, ainda não há esta esperança.
Sem investimentos financeiros, Cuba tornou-se a terra da desesperança para a juventude. Dá para estudar Medicina gratuitamente, algo que nem os americanos têm direito, mas a crise financeira é tão grande que é fácil achar até prostitutas com grau universitário.
Há duas décadas, governos estaduais têm feito intercâmbio com Cuba na implantação de programas sociais. O mais famoso deles é o Programa Saúde da Família, que leva médicos aos bairros mais distantes.
No ano passado, em meio a onda de protestos, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, criaram o Programa Mais Médicos, que “importava” para o Brasil, profissionais europeus e cubanos, em sua grande maioria.
Há justificativa para a medida, porque infelizmente, há lugares longínquos no Brasil, em que médicos brasileiros não querem trabalhar, nem por enormes salários, pela distância e pela falta de infraestrutura.
Porém, o que não está correto é repassar a maior parte dos honorários destes médicos importados para o governo cubano, sobrando migalhas aos médicos trabalhadores cubanos. Mesmo sem falar português, não demorou para muitos entenderem que foram enganados.
Para demonstrar que a intenção é investir em Saúde Pública e não apenas tentar conquistar o Palácio dos Bandeirantes, algo que todo mundo suspeitava desde o início, é preciso rever os contratos e melhorar as condições dos médicos. Do contrário, o Brasil apenas será o trampolim para estes profissionais chegarem a Miami, nos Estados Unidos. Além disso, é mais seguro vir para cá do que enfrentar o turbulento mar do Caribe, em uma balsa prestes a afundar.
A população brasileira realmente precisa de mais médicos, mas o governo federal precisa de mais vergonha na cara e fazer política pública de verdade.

Publicado na edição nº 9659, dos dias 15, 16 e 17 de fevereiro de 2014.