Maldita corrupção

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Marcos Cintra

Levantamento da ONG Transparência Internacional revela que 81% dos brasileiros consideram os partidos políticos “corruptos ou muito corruptos”. Isso significa que quatro em cada cinco brasileiros têm uma percepção muito negativa da política nacional. A segunda instituição mais desacreditada no Brasil é o Congresso, classificado como “corrupto ou muito corrupto” por 72% dos cidadãos.
A pesquisa da Transparência Internacional sobre percepção da corrupção envolve várias instituições e abrange 107 países. A média mundial apurada no caso dos partidos políticos foi de 65% e no caso do Congresso de 57%.
Em instituições como a polícia a média brasileira ainda é relativamente elevada quando comparada com a média mundial (70% contra 60%). Essa relação continua desfavorável ao Brasil no caso do sistema de saúde, ONGs e igreja, mas a diferença para a média geral cai muito. A percepção da corrupção para os brasileiros é menor que a média mundial no caso do judiciário, funcionalismo público, imprensa, setor privado e militares.
Lamentavelmente, o Brasil segue dando vexame no cenário mundial nos levantamentos envolvendo a maldita corrupção, praga que compromete o potencial de desenvolvimento do País. A maracutaia impregnada na sociedade brasileira é um dos fatores que limitam os investimentos na economia e os políticos se tornaram símbolos dessa degradação moral.
O fato é que não daria mesmo para esperar que a percepção da malandragem no País pudesse ser mais amena. Casos emblemáticos de corrupção como a compra de votos no Congresso através do “mensalão”, o desvio de dinheiro na saúde pública praticado pelos “sanguessugas”, o tráfico de influência praticado pelo filho da ex-ministra Erenice Guerra e as negociatas do contraventor Carlos Cachoeira são apenas alguns dos exemplos mais famosos que envergonharam o País no cenário mundial. Muito se roubou do cidadão que, a cada ano, tem que trabalhar cada vez mais para abastecer o saco sem fundo das contas públicas, e de onde recursos evaporam para abastecer os esquemas de desvio de dinheiro.
O levantamento da Transparência Internacional serve para reforçar a necessidade de uma reforma política no País. Ela é uma demanda fundamental para moralizar a administração pública brasileira e combater a corrupção. É uma ação que deve ser capaz de “desprofissionalizar” a política e desmantelar as organizações criminosas incrustadas no governo. Não é só através dela que o País vai enfrentar o problema, mas ela é fundamental para esse processo.
Não me canso de repetir que a reforma política deve remodelar os parâmetros comportamentais dos homens públicos brasileiros e uma de suas diretrizes deveria ser o combate aos políticos de carreira. Um cidadão que tenha perdido sua condição de sustentação no setor privado, que se afastou de sua profissão e que passe a depender da política para sua manutenção, torna-se capaz de tudo e de qualquer coisa para sobreviver. A profissionalização na política é um dos fatores que alimentam a vergonhosa corrupção que impera no Brasil.

(Colaboração de Marcos Cintra, doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas. [email protected] /www.facebook.com/marcoscintraalbuquerque).

Publicado na edição n° 9571, dos dias 16 e 17 de julho de 2013.