Mar, pobre mar!

José Renato Nalini

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O aquecimento global prejudica a humanidade como um todo. Mas não é só no solo habitável que ele se manifesta. Os mares são vítimas preferenciais das ondas de calor. O recorde de temperaturas, a acidificação acelerada e a poluição generalizada deixam os oceanos enfermos. Gravemente enfermos.

Um recente relatório da OMM – Organização Meteorológica Mundial confirmou indicadores negativos para os mares. Estes cobrem mais de setenta por cento da superfície da Terra. São reguladores do clima. Só que a degradação esvazia esse papel a eles reservados. O ano mais quente da História foi 2023. As ondas de calor marinha cobriram mais de um terço dos oceanos. Quando se estabelece mudança como essa, a irreversibilidade é manifesta.

As águas retêm o calor por mais tempo do que a atmosfera. Um sinal evidente é o branqueamento de corais, ecossistemas essenciais para o equilíbrio da vida marinha. Num processo nefasto, desencadeado pelo estresse térmico, os corais expulsam as algas que vivem em seus tecidos e ficam mais vulneráveis a problemas como a falta de nutrientes e a doenças.

A desertificação da vida marítima é a consequência da absorção de níveis sem precedentes de dióxido de carbono. Cientistas de todo o planeta imploram que os governos protejam suas orlas. E protejam também o alto-mar, que está a cerca de 370 km da praia.

Os compromissos internacionais de preservação se resumiam às águas nacionais. O Brasil enfrentou problemas com a pesca predatória em suas águas. Muito da fauna marinha já desapareceu. Enquanto um novo acordo exige dos países que protejam ao menos 30% de suas águas marítimas até 2030, até agora só 3% dos oceanos merecem alguma proteção. O pior é que esse acordo só entrará em vigor quando 60 países o firmarem. Em março de 2024, só dois países o fizeram: Palau, um Estado insular do Pacífico e o Chile.

Enquanto isso, a Petrobrás realiza expedição “científica” na margem equatorial do Amazonas. O pretexto é estudar geologia. Mas, na verdade, teme-se que a estatal insista na exploração de petróleo na região. É postura na contramão do que o mundo deveria fazer. E um paradoxo na promissora “potência verde”, que renega sua vocação para aderir ao insensato extrativismo suicida. Quem nos salvará do cataclismo?

(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo).