

O desenrolar humano é cercado de mistérios. Ao longo de nossa jornada de desenvolvimento – nascimento, crescimento, plenitude, enfraquecimento e morte – nos deparamos com variadas situações que demandam análise e decisão. Muitos desses momentos são marcados por uma análise enviesada dos fatos, em que convicções intelectuais formuladas através da experimentação, dos hábitos e do ambiente modulam nosso pensamento. Partimos, inequivocamente, de premissas que variam de pessoa para pessoa.
Quando tratamos do pensamento, a análise dos fatos, situações e a resolução dos problemas, simples ou complexos, derivam de modelos mentais que construímos ao longo de nossa jornada de desenvolvimento. Tais modelos facilitam a observação do fato e permitem enxergar diferentes caminhos, os riscos, as vantagens e as dificuldades de cada caminho possível – em determinados momentos, são muitos os caminhos à frente; em outros, não há muito para onde caminhar.
Nesse contexto, os modelos mentais de análise de probabilidades (de cada risco, de cada oportunidade, de cada vantagem ou desvantagem) que fazemos consciente ou inconscientemente em nossas mentes resultam na forma como reagiremos a determinado estímulo. Essa análise, seguida de uma reação ou inação, pode se dar em milissegundos, especialmente em situações de perigo, ou em dias, semanas ou meses, quando uma decisão importante precisa ser tomada e, logicamente, há tempo disponível para a execução dos modelos mentais possíveis.
Ocorre que nossos modelos mentais de pensamento podem ser falhos ou incompletos. Como estamos sujeitos a vieses, podemos estruturar nossos modelos sob pilares ocos. Em síntese: podemos partir de certezas equivocadas, análises incompletas ou informações imprecisas para formular as conclusões através de nossos modelos mentais de pensamento. Assim, por mais que haja coerência e inteligência em nossas decisões, pode ser que estejamos adotando a melhor alternativa, porém, com base em dados e premissas equivocadas, o que fatalmente nos levará a uma decisão ou ação não adequada para o caso concreto.
É sabido que boa parte das decisões que tomamos ao longo da vida são erradas ou darão errado em algum momento. A incerteza faz parte da vida, e analisar fatos com base em informações equivocadas ou incompletas é uma constante. Mas como tomar melhores decisões, se quase sempre partimos de um ponto incerto, errado ou incompleto? Como nossos modelos mentais de decisão, que envolvem certezas, vieses, informações e capacidade analítica, podem ser mais bem calibrados para melhores resultados?
A resposta a essas questões é inexata. Talvez, contudo, devamos procurar trabalhar naquilo que está sob nosso controle, e um dos elementos cruciais de nossa matriz de pensamento são as certezas e vieses. Podemos tentar quebrar essas crenças através da abertura ao novo e ao desconhecido através da curiosidade intelectual. Quando nos despimos das certezas, nosso mundo cresce e nos tornamos menos propensos a erros de premissas nas matrizes de pensamento e no desenvolvimento dos nossos modelos mentais de decisão e ação. Se pudermos calibrar melhor aquilo que está sob nosso controle através da quebra de premissas que reduzem a eficácia do pensamento, poderemos diminuir a probabilidade de erros nas decisões.
As incertezas e informações parciais ou equivocadas sempre estarão em nosso caminho e independem de nossa competência, porém se melhorarmos aquilo que está sob nosso controle, poderemos tomar decisões com maior acurácia e com menor possibilidade de erro.
(Colaboração de José Mário Neves David, advogado, conselheiro e consultor. Contato: [email protected]).
Publicado na edição 10.901, de sábado a sexta-feira, 1º a 7 de fevereiro de 2025 – Ano 100