Morte de Remy é truque clássico para atrair boa audiência

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Será que morreu mesmo? Remy, personagem de Vladmir Brichta, foi enterrado pela família. No entanto, a morte pode ser falsa e surpreender no final. (Gshow/Arthur Moninca)

No capítulo de segunda-feira (10) de ‘Segundo Sol’, o público assistiu a cena em que o vilão Remy (Vladmir Brichta) foi assassinado a facadas em quarto de motel. A sequência escrita por João Emanuel Carneiro rendeu 35 pontos em São Paulo, esta é a média exigida para o horário. A direção de Dennis Carvalho e Maria de Médicis foi impecável, com relances e movimentos de câmera que permitiram maior tensão a quem assistia.
A ideia de Carneiro é bastante utilizada por roteiristas para atrair mais audiência aos folhetins. Neste caso, o assassinato do personagem de Vladmir Brichta é vital para a largada final da história. Restando dois meses para o desfecho, a principal suspeita é Luzia (Giovanna Antonelli), que fugiu do local para não ser presa. Na cena seguinte, as vilãs Laureta (Adriana Esteves) e Karola (Deborah Secco) conversaram sobre a morte e Laureta disse ser a autora do crime.
No entanto, a cena não mostrou o assassino. O que não faltava para o personagem eram inimigos. A morte aconteceu para incriminar Luzia, mas, pode ter ocorrido para outros fins, podendo ser explorados pelo autor nas últimas semanas da novela.
Com isso, cumpre-se a promessa do autor de uma nova Luzia. Assinatura marcante de seus textos, a vingança já pode ser vista em tramas como ‘A Favorita’, ‘Avenida Brasil’ e ‘A Regra do Jogo’. A partir de agora, Antonelli poderá convencer o público de que não é uma mocinha inocente demais, iniciando descoberta sobre seu filho que, na verdade, está vivo.
Esse recurso foi usado pelo mesmo autor em ‘Avenida Brasil’ quando o vilão Max, personagem de Marcelo Novaes, morreu deixando vários suspeitos. A cena foi quase à mesma de ‘Segundo Sol’. A mocinha Nina (Débora Falabella), despertou ao lado do corpo e no último capítulo Carminha (Adriana Esteves) assumiu a culpa.
Também de Carneiro, ‘A Favorita’ usou o mesmo recurso de maneira mais instigante. A trama protagonizada por Patrícia Pillar e Cláudia Raia começava com um personagem já morto e nem o público, nem os personagens sabiam qual das duas era a verdadeira assassina.
O que muda de uma história para outra, é a imaginação do autor na hora de escolher quem vai morrer, quem serão os suspeitos e, por fim, quem será o assassino. A pioneira neste quesito foi ‘O Sheik de Agadir’ em 1966, escrita por Glória Magadan. A trama apresentava várias mortes por meio de estrangulamentos. No final, a personagem de Marieta Severo revela-se a assassina.
Teve também ‘Vale Tudo’, talvez a mais lembrada por utilizar o recurso da morte misteriosa. A vilã Odete Hoitman, interpretada por Beatriz Segall, falecida na última semana, foi assassinada com vários tiros na reta final da novela, fazendo o Brasil parar e apostar na identidade do autor do crime. No último capítulo, descobre-se que Leila, (Cássia Kiss) a matou por engano, pensando ser Odete, a amante de seu marido.
Em 1995, ‘A Próxima Vítima’ fez vários assassinatos serem cometidos por Adalberto Vasconsellos (Cecil Thiré), desvendados apenas no último capítulo da trama de Sílvio de Abreu. Depois, em ‘Celebridade’ de Gilberto Braga, a vilã Laura (Cláudia Abreu), tira a vida do empresário Lineu Vasconcellos gerando mistério, que abusou da criatividade dos telespectadores até o final.
Também de Gilberto Braga, ‘Paraíso Tropical’ contava a história das gêmeas Paula e Taís, vividas por Alessandra Negrine. No meio da trama, a vilã Taís morre misteriosamente e Olavo (Wagner Moura) revela-se autor do crime. Essa inclusive, uma das melhores cenas de assassinato das novelas. Olavo dopou Taís, deixando-a desacordada na cozinha do apartamento, trancando tudo e ligando o gás provocando sua morte por asfixia.
Em 2010, Silvio de Abreu matou, no capítulo 100, o vilão Saulo (Werner Shünemann), e definitivamente na última cena do capítulo final, quando o vilão Fred (Reynaldo Giancecchini) foi condenado pelo crime, a também vilã Clara (Mariana Ximenes), em flashback, revelou-se a verdadeira assassina.
Agora, o público foi convidado a bancar o detetive mais uma vez. Será que Remy foi morto por Laureta? Os indícios apontam que sim, e mesmo que isso esteja claro, o autor pode surpreender quando os personagens descobrirem a identidade da assassina. Nada impede também, como novela é obra aberta, que Remy esteja vivo e volte ao final. Esse artifício, inclusive, foi usado em ‘Belíssima’ com a vilã Bia Falcão, e em ‘Passione’, quando Totó, personagem de Tony Ramos forjou sua morte para desmascarar Clara. O jeito é aguardar os capítulos finais e torcer para que haja mais surpresa.

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Publicado na edição nº 10311, de 15, 16 e 17 de setembro de 2018.