Na crise, é preciso reinventar-se, fazendo do problema, uma nova maneira de enxergar sua solução

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(Gazeta)

Frase da semana:

“A ignorância frequentemente traz mais confiança do que o conhecimento: são os que sabem pouco e não aqueles que sabem muito, que afirmam de uma forma tão categórica que este ou aquele problema nunca será resolvido pela ciência”.

Charles Darwin (1809 – 1882)
Naturalista, geólogo e biólogo britânico é considerado o pai da ‘Teoria da Evolução das Espécies’

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Com agenda apertada, entre reuniões virtuais e presenciais em razão da pandemia, Fernando Galvão tem sido visto frequentemente a conferir todas as iniciativas que criou ou adotou no enfrentamento dos problemas advindos do novo coronavírus.
O prefeito de Bebedouro, em parceria com representantes da sociedade civil, foi um dos primeiros a projetar e fazer valer o distanciamento social, e exatamente por isso, pode mais tarde, flexibilizar o funcionamento de alguns setores, dentre eles, o comércio. Promoveu a vacinação dos idosos em domicílio e pelo sistema drive thru; criou a feira pelo mesmo sistema, no Sambódromo, inovação esta elogiada, inclusive, pelo secretário estadual de Agricultura, Gustavo Junqueira, em telefonema a Galvão.
Mas exatamente por estar à frente na solução dos problemas, também tem sido alvo da ala oposicionista de plantão, mas não porque esteja preocupada com a pandemia, e sim, de olho nas próximas eleições. De “prefeito da Saúde” como outrora apelidado pelo então vereador de situação Fernando Piffer, passou a ser acusado, pelo mesmo vereador, agora postulante ao seu cargo, de promover o caos no hospital municipal, usando esta falácia como desculpa para invadir suas instalações, sem nenhum paramento de proteção, colocando em risco pacientes, funcionários e a si próprio, acompanhado por seu fiel escudeiro e provável companheiro de chapa, o vereador Chanel, em evidente constrangimento a quem presenciou a cena. A desculpa para a invasão foi a doação de álcool em gel.
Em entrevista exclusiva, Galvão fala das medidas que adotou, de como é governar em tempos de crise e dá ênfase a seu pedido ao governador Dória e vice Garcia para viabilizar a abertura antecipada do Hospital Regional, pelo menos da ala dos leitos de UTI .
Confiram e boa leitura.

O vírus como desculpa
Pseudo comunicadores têm disseminado notícias falsas, que variam desde textos com autoria fake para, por detrás de notórias identidades, dar credibilidade ao que pensam por si próprios, até o compartilhamento de mentiras puras e simples. Ouvi até que para conseguir seus objetivos, mentir está valendo, ataques pessoais também, mas desde que não extrapolem para a família…cômico se não fosse trágico. O que será que houve com os princípios? Será que foram também atingidos pelo novo coronavírus? Ou simplesmente deixam à mostra que nada têm a mostrar.’

Entrevista

Sobrevoo – Como é governar em tempo de crise?
Fernando Galvão – Em qualquer época é necessário ter responsabilidade, foco e serenidade para lidar com a situação e tomar decisões. Desde o ano de 2013, quando assumi meu primeiro mandato, enfrentei grandes desafios. Chuvas torrenciais, epidemia de dengue, incêndios, caso Coaf, a bomba do precatório do Hospital Municipal que caiu no meu colo, explodindo a dívida da prefeitura, a maior crise financeira da história do país, em especial da previdência, e agora, a maior crise da saúde da história do mundo. O que será que está faltando, hein? Tem que ter equilíbrio para passar por tudo isso.

Sobrevoo – O Legislativo tem colaborado? A julgar pelas redes sociais e pelos pronunciamentos na Tribuna, os vereadores lhe declararam guerra?
Fernando Galvão – Faz parte do processo democrático a existência de divergências de opinião. É saudável o debate de ideias. Quando feito em alto nível, lógico. No entanto, é necessário expressá-las com educação e respeito e, acima de tudo, com a verdade. Infelizmente, parte da minha oposição tem feito ataques e ofensas pessoais que não ajudam em nada. Impossível meu governo não acertar nunca, não ter nenhuma conquista valorizada, nenhuma ação ou projeto bom e correto!!! Na verdade, nós precisamos de ajuda neste momento, não de declaração de guerra. Uma pena. A cidade perde com isso. Eu não faria isso se estivesse no lugar deles. Mesmo discordando, procuraria ajudar.

Sobrevoo – Existe possibilidade do governador Doria atender seu pedido para viabilizar a entrega, pelo menos, dos leitos de UTI do Hospital Regional?
Fernando Galvão – Tenho conversado quase todos os dias com o Governo do Estado. Secretário de Saúde, Vice governador Rodrigo Garcia, Diretor de Obras da Secretaria Adhemar Dizioli, Deputado Federal Geninho Zuliani, Dr. Rubens Cury, enfim, articulando até com a iniciativa privada, alternativas e saídas para agilizar a entrega da obra. Existe uma grande dificuldade que é a compra e a entrega de equipamentos da UTI. No momento, o mundo inteiro esta montando hospitais. Existe uma demanda enorme e graves dificuldades com fornecedores. Posso garantir que estamos fazendo o possível e o impossível para conseguir a abertura desses leitos de UTI o mais rápido possível.Buscando parcerias e alternativas. Posso antecipar que existe grandes chances de um importante anúncio nos próximos dias.

 

Sobrevoo – Em termos de obra, o que está faltando para terminar? E em termos deliberativos, o que falta?
Fernando Galvão – Estamos com o primeiro andar, que são os leitos de UTI, quase concluído. Posso dizer que 90%. Os demais leitos, que seriam abertos nesta fase, estão no terceiro andar, também bem avançados. Agora estamos acabando a instalação do ar condicionado e buscando uma alternativa para os elevadores. Toda a parte de acabamento dos banheiros está concluído. Pintura interna e armários também. Estamos instalando a rede de água e esgoto. Temos que agilizar os licenciamentos. São muitos detalhes. É a maior obra pública da história da cidade.

Sobrevoo – Como foi o resultado da feira de produtos hortifrúti e granjeiros, em sistema drive thru, no Sambódromo?
Fernando Galvão – A feira, sob o novo formato, foi um grande sucesso. Repercutiu no Brasil inteiro. Virou referência. E vou informar aqui, em primeira mão, que o modelo por nós idealizado aqui em Bebedouro será adotado pela Secretaria de Agricultura do Estado de SP. Recebi um telefonema do Secretário Gustavo Junqueira pedindo autorização para implantar a nossa ideia como uma alternativa em todo o Estado e até na Capital. Fiquei muito feliz. E a inovação não vai parar por ai. Criamos uma metodologia inovadora para atender os alunos da educação. Além das aulas online, teremos aulas e atividades extras por um canal de TV da região. Consegui o patrocínio de uma empresa da cidade e vamos ter programas de duas a três vezes por semana, com professores da rede municipal. O programa vai chamar Educando com o coração. Aguardem. Será um sucesso.

Sobrevoo – Tentaram boicotar a iniciativa da feira? Se sim, quem?
Fernando Galvão – Sim, alguns vereadores da oposição, tentaram boicotar a feira drive thru, até mesmo se reunindo com alguns feirantes para evitar que ela acontecesse. Porém, essa ação de nada adiantou, e somente prejudicou alguns feirantes que deixaram de ganhar dinheiro, enquanto seus colegas de trabalho escoavam seus produtos. Isso me deixou muito triste, espero que essa oposição desleal, tenha a consciência que nessa fase delicada, as pessoas necessitam de soluções e não de mais problemas. O pior de tudo foi boicotar e, depois que a feira foi um sucesso absoluto, falar que a ideia foi deles. Se tivesse dado errado, aí sim, a ideia seria minha. Só por Deus!

Sobrevoo – A flexibilização de funcionamento de algumas áreas está dando certo?
Fernando Galvão – Sim. Tomamos esta iniciativa junto com as lideranças do comércio. As lojas trabalham com um balcão de atendimento externo. Profissionais autônomos e liberais trabalham em residências e nos próprios estabelecimentos de portas fechadas, com todas as medidas de higienização e proteção. Apesar de alguns serviços sofrerem mais, ainda é possível exercer suas atividades com criatividade, sem deixar de lucrar e atendendo o desejo de consumo da população através de entregas e drive thru. Tentamos criar um meio termo para não prejudicar mais a economia e não deixar de proteger a saúde do bebedourense e suas famílias.

Sobrevoo – Quais serão as próximas medidas rumo à normalização? Ou é cedo para se falar nisso?
Fernando Galvão – Acabamos de baixar um decreto determinando o uso de máscaras, especialmente nos estabelecimentos com atendimento de público. Precisamos começar a voltar à normalidade, de forma gradativa, protegendo as pessoas e diminuindo os impactos na economia. Nossas análises são diárias. Os números estão demostrando certa estabilização dos casos, no entanto isto não nos autoriza a tomar medidas irresponsáveis. Ainda há perigo. Tiveram cidades que liberaram tudo e, depois, foram obrigadas a voltar atrás devido à explosão de casos. Bebedouro foi reconhecida no Estado como uma das cidades que mais conseguiu cumprir as metas de proteção. Inclusive sendo divulgado nacionalmente, os percentuais de isolamento. Na próxima semana, precisamos pensar em outras alternativas para o comércio e também para que o transporte coletivo comece a voltar.

Sobrevoo – O senhor conhece o estudo da Unesp de Botucatu, liderado por dr. Fortaleza, que prevê aumento de casos no interior de SP em 3 semanas?
Fernando Galvão – Nosso consórcio Codevar fez uma reunião online com toda equipe da Unesp. Foi uma grande oportunidade para buscarmos, na pesquisa e na ciência, repostas para este momento de eventual flexibilização. Os professores nos alertaram sobre as rodovias da região, que são canais de circulação do vírus e também a grande preocupação com o volume de casos de Ribeirão Preto e Rio Preto. Na visão dos pesquisadores, apesar da situação estar sob controle, estas duas cidades podem ainda exportar casos para nossos municípios.

Sobrevoo – Como o senhor avalia a atuação do governo estadual e do governo federal frente à pandemia, no estado e no país?
Fernando Galvão – Atualmente, é visível que o governo federal e estadual, veem apresentando pensamentos divergentes em relação à quarentena e à própria Covid-19. Por um lado, o governo federal defende o ponto de vista de um relaxamento da quarentena. Já o governo estadual demonstra constantemente o temor pelo aumento e agravamento dos casos. Realmente, essas opiniões divergentes e esta politização do coronavírus geram confusão de entendimento, prejudica demais a tomada de decisão e o convencimento das pessoas.

Sobrevoo – Bebedouro, em suas necessidades, tem sido atendida pelos governantes nos âmbitos estadual e federal?
Fernando Galvão – Impossível o atendimento integral de todas as demandas do município, até porque temos um Hospital Municipal que atende várias cidades da região. Os Governos do Estado e Federal propuseram o envio de recursos pelo tamanho das cidades. Nosso maior desafio, neste momento, é a abertura dos leitos de UTI do novo Hospital Estadual.

Sobrevoo – Qual o ponto nevrálgico a ser enfrentado pós pandemia?
Fernando Galvão – A maior preocupação pós pandemia será a economia do pais e do município. A arrecadação de ICMS já caiu mais de 30%. O ISS despencou. O IPTU tende a ter um recolhimento bem menor que nos anos anteriores. O comércio fechado gera problemas gravíssimos. Cada nota que deixa de ser emitida na cidade impacta diretamente na arrecadação. Tomamos medidas como cortes de salários de comissionados, horas extras, revisão de contratos, suspensão e rescisão de contratados. Reduzi em 30% meu próprio salário e do vice prefeito. Cada um tem que fazer a sua parte neste momento.

 

Publicado na edição nº 10481, de 25 a 30 de abril de 2020.