José Renato Nalini
Os jovens são pressionados por uma sensação de que não haverá mais emprego e que, portanto, será difícil sobreviver com dignidade nas próximas décadas. Entretanto, é preciso lembrar que há coisas imperecíveis. As pessoas continuarão a necessitar de semelhantes que cuidem de questões das quais ninguém consegue se libertar.
Aquilo que poderia parecer condenado à extinção poderá ser uma excelente opção no amanhã. O exemplo é o barbeiro, o cabeleireiro, o esteta, o terapeuta, o cuidador de quem não tem condições de administrar alguns aspectos essenciais da existência.
Há consumidores descolados, que querem novidade e prezam a estética. Estes vão recorrer a alfaiates, a camiseiros, a quem sabe remendar, em lugar de descartar. Uma geração atenta ao ambiente vai administrar a produção de resíduo sólido que é um exagero no Brasil. País pobre, não poderia ser dar ao luxo de jogar tanta coisa no lixo.
Exclusividade e qualidade também terão lugar nos pequenos nichos onde se pode adquirir comida vegana, ou orgânica, ou aprender a cozinhar de maneira sustentável. Formar hortas e jardins domésticos ou comunitários exigirá alguém que conheça a terra e se delicie com a resposta generosa da natureza ante qualquer gesto de carinho que a ela seja propiciado por pessoas sensíveis.
A marcenaria estará em alta para aquele que se dispuser a adquirir produtos certificados e que não se conforma com o maltrato contínuo, inclemente e ignorante em relação à natureza.
Reinventar aquilo que parece hoje em desuso é uma trilha que poderá ser auspiciosa a quem se dispuser a lembrar que as pessoas têm saudades de doces caseiros, de bolos com receitas simples, de bordados, como o monograma em camisas e lenços, de tricô, de crochê, de frivolité, de filet, daquilo que já foi um dia muito comum e que a massificação ameaçou de morte.
O açougue pode ser um lugar de transmissão de conhecimento e de treino para quem quer fazer um churrasco personalíssimo. Tudo o que tiver um plus de sofisticação, de exclusividade, de retorno ao genuíno e à ingenuidade de um passado que hoje reside na arqueologia cultural, pode dar certo para quem procura uma individualidade que fuja à cansativa, monótona e reiterada mesmice da mediocridade. Nem tudo desapareceu, portanto, no mundo do trabalho. É preciso ser criativo e original. E as portas do êxito se abrirão para premiar os audaciosos.
Colaboração de: José Renato Nalini, secretário da Educação do Estado de São Paulo