No vácuo glúten

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Em uma época em que as polêmicas conseqüências do trigo e de seu vilão-mor, o glúten, têm sensibilizado parte da população para eliminá-los completamente de seus cardápios, a mandioca e outros alimentos como a abóbora e a batata-doce começam a ganhar importância na agricultura mundial, bem como nos laboratórios de institutos de pesquisas relacionadas à saúde e à alimentação.

O objetivo dessa tendência deixada pelo vácuo do glúten não é simplesmente produzir mais alimentos sem este componente, mas sim, produzir alimentos com maior produtividade e principalmente mais nutritivos, sem a influência da transgenia, que a partir da década de 1990 entrou em nossos pratos sem pedir licença e sem informação suficiente que nos alerte sobre suas conseqüências.

 

Tubérculos vitaminados

A notícia vem do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), pelas palavras da pesquisadora Teresa Losada Valle, responsável pelo desenvolvimento de trabalhos sobre biofortificação de algumas variedades alimentícias, entre elas, o feijão, o milho, a mandioca, a abóbora e o arroz.

O conceito da biofortificação resume-se ao melhoramento genético das plantas realizado pelo cruzamento de diferentes variedades, levando-se em conta a resistência a doenças, alta produção e boas características nutricionais. Porém, como ressalta Teresa, antes de tudo a planta tem que ser boa no campo.

A idéia do cruzamento de plantas não é algo pioneiro no país. Recordemo-nos brevemente de nossa história, antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral, quando os índios já haviam domesticado a mandioca tal qual legado nos deixaram e que hoje adotamos massivamente em nosso hábito alimentar. Quem não aprecia uma mandioca frita acompanhada de carne de sol ou mesmo de um churrasco? E para os vegetarianos, uma simples mandioca cozida embebida no melhor azeite português?

Aliado a essa herança centenária dos índios, podemos dizer que a mandioca se adapta bem aos vários ecossistemas encontrados no país, sobrevive bem às pragas, seca e geadas e possui alto padrão de sustentabilidade pelo baixo custo de produção. Você mesmo pode ter meia dúzia de pés no fundo de sua casa.

 

Produção invejável

O Brasil é o terceiro maior produtor de mandiocas do mundo, com cifras de 27 milhões de toneladas ano, o que corresponde a cerca de 10% da produção mundial. São Paulo se destaca com produção de 1 milhão de toneladas, dos quais 120 mil são mandiocas de mesa e o restante corresponde à produção industrial de farinhas e polvilho.

A biofortificação desenvolvida pelo IAC contempla três etapas gerais: depois de inúmeros cruzamentos de espécies de mandioca, selecionam-se os indivíduos com raízes mais uniformes, resistência a doenças e de alta produtividade. Nessa primeira etapa selecionam-se também as espécies com mais carotenoides (mais amarelinhas); na sequência, já na segunda etapa, selecionam-se as espécies com boas características organolépticas, ou seja, tempo de cozimento, textura, e qualidade da massa cozida; por fim, realiza-se uma avaliação química levando-se em consideração a quantidade do teor de vitamina A e carotenoides, como o betacaroteno.

Como resultado final, a mandioca biofortificada apresenta em média 800 UI que são as unidades internacionais de medida de vitamina A por 100 gramas de raízes frescas, tudo isso sem a utilização de conceitos transgênicos de produção. Vale lembrar que a mandioca tradicional de raízes brancas chega ao máximo de 20 UI.

Em tempo, o Brasil participa através da Embrapa, da rede mundial HarvestPlus, organização que congrega pesquisadores do mundo todo para desenvolver a biofortificação alimentar com o objetivo de melhorar a dieta de famílias pobres e dar alternativa de trabalho para pequenos produtores rurais.