O álcool e as doenças mentais: transtornos psiquiátricos relacionados ao uso excessivo

Mateus Drumond e Luiz Assunção

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É considerada substância psicoativa qualquer substância que, utilizada por qualquer via de administração, altera o humor, o nível de percepção ou o funcionamento cerebral, podendo ser legalmente usada, prescrita ou ilícita (ilegal).

No entanto, não existe uma fronteira nítida entre o que seja um simples uso de psicoativos, um abuso ou mesmo uma dependência severa, pois tudo isto se desenvolve em um ‘continum’. Ou seja, não existe nível seguro de consumo do álcool para a saúde cerebral.

Os efeitos físicos ocasionados pelo álcool são: diminuição dos reflexos; risco de doenças, como câncer na língua, boca, esôfago, laringe, fígado e vesícula biliar, associados ao uso por longo prazo; risco de ocasionar hepatite, cirrose, gastrite e úlcera; danos cerebrais irreversíveis, quando usado em grande quantidade; risco de problemas cardíacos e de aumento da pressão arterial; risco de desnutrição; risco de malformação congênita quando usada durante a gestação.

O álcool gera também consequências emocionais e comportamentais aqui relacionadas: perda da inibição, levando a pessoa intoxicada com álcool a fazer coisas que normalmente não faria, como, por exemplo, dirigir um carro em alta velocidade; alteração do humor, ocasionando raiva, comportamento violento, depressão e até mesmo, suicídio; perda de memória; prejuízo na vida familiar, ocasionando desentendimento entre casais e problemas emocionais nas crianças; diminuição de produtividade no trabalho.

Efeitos neuróticos do álcool: estudos neuropsicológicos e de neuroimagem mostram que três redes neurais são particularmente vulneráveis: a rede front cerebelar, que controla o equilíbrio; o front límbico, envolvido na memória, na motivação e na autoconsciência; e o fronte estriado, responsável pela regulação emocional, inibição, flexibilidade cognitiva e gerenciamento de recompensas.

Álcool e intestino: redução na variedade de micro-organismos benéficos ao seu intestino no epitélio intestinal. Disbiose leva à inflamação sistêmica (além de diarreia e má nutrição).

Abuso do álcool em as mulheres

Um terço dos norte americanos que sofrem de alcoolismo é formado por mulheres. Mulheres alcoólatras são mais difíceis de serem diagnosticadas que os homens. Em média mulheres alcoólatras bebem menos que os homens alcoólatras, mas exibem o mesmo grau de prejuízo.

Níveis de álcool no sangue são mais altos nas mulheres que nos homens após terem bebido a mesma quantidade de álcool (ajustado por peso).

Essa maior biodisponibilidade de álcool nas mulheres é provavelmente decorrente de maior proporção de gordura corporal e de menor metabolismo gástrico primário do álcool, associados a uma menor atividade da desidrogenase gástrica do álcool, o que as torna mais suscetíveis que os homens também quanto ao abuso de tranquilizantes ou sedativos.

Mulheres alcoólatras têm maior taxa de mortalidade que mulheres não alcoólatras e homens alcoólatras.

Comparadas aos homens, mulheres também desenvolvem doenças relacionadas ao álcool com menor tempo de consumo dessa substância. O abuso de álcool também expõe a mulher a riscos especiais, afetando a fertilidade e a saúde do bebê (síndrome alcoólica fetal).

Reforço: Não há nível seguro para uso de bebida alcoólica.

Saúde, saúde, saúde!!!

(Colaboração de Mateus Drumond, médico nutrólogo funcional integrativo e Luiz Assunção, farmacêutico clínico integrativo).

Publicado na edição 10.813, quarta, quinta e sexta-feira, 17, 18 e 19 de janeiro de 2024