Um dos pilares da estrutura ESG – conjunto de padrões e boas práticas corporativas voltadas à responsabilidade social, sustentabilidade e gestão – diz respeito à governança. Nesse contexto, a implementação de medidas e estruturas de controle e estratégia reforçam os pilares da corporação, indicando as diretrizes para o enfrentamento dos desafios constantemente colocados no caminho das organizações. Assim, cresce a importância e a relevância dos conselhos de administração para as corporações, uma vez que seus integrantes têm a missão de conduzir o barco frente às inúmeras tormentas e oportunidades surgidas ao longo de um trajeto que tem começo, mas não tem fim.
Sobre os conselhos de administração, estudo recentemente publicado pela Egon Zehnder, líder global de consultoria de gestão, apontou as principais tendências relacionadas à evolução dos boards enquanto fóruns de fundamental importância para a definição de estratégias e perenização das corporações ao longo dos inconstantes tempos ora vividos. O estudo, realizado de fevereiro a agosto de 2022 – após, portanto, o período mais crítico da pandemia – ouviu presidentes e membros vogais de conselhos de 35 das maiores companhias do planeta, assim como investidores e professores de governança das mais prestigiadas universidades do mundo, e apontou quatro principais tendências para os conselhos de administração do futuro.
A primeira grande tendência identificada diz respeito à expansão da “consciência corporativa”. Isto é, os conselhos de administração deverão agir cada vez mais como uma bússola moral das organizações, guiando a estrutura e a ajudando a navegar face aos novos dilemas. A velha máxima de geração de valor aos acionistas e associados, única e exclusivamente, vai dando espaço maior à atuação mais estratégica dos conselhos, que não mais deverão focar exclusivamente em resultados, mas também naquilo que “queremos ser” e “como seremos”.
Uma segunda tendência apontada no estudo indica que os conselhos de administração deverão ser cada vez mais ágeis face às constantes e rápidas mudanças do mundo. Nesse sentido, a agilidade não apenas residirá na análise e definição de estratégias, como também na própria composição dos colegiados, que podem rapidamente variar conforme forem sendo postos os dilemas e as necessidades de um mundo em constante mudança. Assim, o tempo médio de permanência dos conselheiros na estrutura deve cair ao longo dos próximos anos, face à necessidade de rápida adaptação e modelagem do perfil do colegiado conforme os desafios e as oportunidades forem sendo modificados.
O terceiro padrão futuro identificado no estudo indica que os conselhos de administração cada vez mais deverão assumir compromisso com o desenvolvimento em sentido amplo, isto é, para com os membros do próprio conselho, com o conselho em si e com o C-Level (presidente e diretores executivos), sob pena de, não o fazendo, ocorrer rápida obsolescência e acelerada redução do poder de impacto dos profissionais em relação aos desafios constantemente postos. A transformação dos negócios não é mais um diferencial, mas uma necessidade para sobrevivência em um mundo bastante incerto e não linear, e o desenvolvimento constante é mandatório nesse cenário.
Por fim, a quarta tendência apontada no estudo é o necessário reconhecimento da importância da cultura corporativa para fins de atingimento dos resultados almejados pela organização. Em outras palavras, será cada vez mais importante para o conselho de administração reconhecer que uma cultura corporativa sólida e clara para todos é o melhor e mais seguro caminho para o futuro, ainda mais em estruturas sem “dono” ou pessoa de referência na condução do negócio.
Assim, fica evidente que os conselhos de administração terão, cada vez mais, papel-chave na construção de uma cultura sólida, na elaboração de planos de ação e estratégias factíveis e resilientes e na condução da corporação face aos mais variados dilemas e desafios. É nesse colegiado, cada vez mais plural, diverso e estratégico, que as organizações buscarão as respostas para as perguntas que afetam o negócio, a sociedade e o mundo como um todo.
(Colaboração de José Mário Neves David, advogado e consultor. Contato: [email protected]).
Publicado na edição 10.720, de sábado a terça-feira, 10 a 13 de dezembro de 2022.