Entrevista coletiva do Ministério Público, Depto de Educação e Fundeb revelam os abusos no uso da frota escolar.
O brasileiro é conhecido por ser obrigado a contornar as dificuldades e mesmo assim conseguir bons resultados. Isto ficou conhecido no mundo todo como ‘jeitinho brasileiro’. Porém, o que era exceção à regra em situações extremas, transformou-se em modus operandi no uso da máquina pública. O resultado é conhecido por todos: desde obras mal feitas até casos escabrosos de corrupção.
Por lei, ônibus, peruas e vans compradas com dinheiro do Fundeb deveriam ser apenas utilizados para transporte de estudantes matriculados na rede pública. Porém, o que foi denunciado em 2011, ao Ministério Público, pelo Conselho Municipal do Fundeb demonstra que houve total desrespeito à legislação federal.
De 240 viagens feitas para fora de Bebedouro, apenas uma delas aconteceu em benefício dos estudantes. No outros 99% dos casos, o transporte foi utilizado para eventos esportivos e religiosos.
É logico que equipes esportivas amadoras têm o direito de serem transportados pela administração municipal, levando em conta que representam a cidade, trazem medalhas e troféus para orgulho da população. Também não se pode recusar o transporte para pessoas empenhadas em orar.
Para contornar a fiscalização federal com os gastos de transporte escolar, chegaram a colocar nas requisições que os ônibus seriam usados por escolas. Mas a malandragem é descoberta com simples conferência dos horários e dias das viagens, sempre à noite e nos fins de semana, portanto, fora da jornada educacional.
Porém, este ‘jeitinho’ dado para atender as demandas esportivas e religiosas, sucateou a frota municipal, aumentaram os gastos do Depto de Educação com transporte, e pior, crianças tiveram excursões educacionais cortadas, porque não havia nem combustível para colocar nos ônibus.
A primeira providência adotada foi cortar o uso irregular da frota municipal. A segunda está sendo a investigação em curso, das irregularidades outrora cometidas no uso do transporte e verificar quem será responsabilizado criminalmente.
O saudoso governador Mário Covas, conhecido pelo temperamento forte, sempre dizia que preferia aguentar a cara feia ao negar um pedido do que fazer algo irregular. Atualmente, os políticos dão o ‘jeitinho’ com medo de perder votos, mas mesmo com seu jeito austero, Covas ganhou a maioria das eleições que disputou.
Publicado na edição n° 9520, dos dias 9, 10 e 11 de março de 2013.